CONVERSA FIADA
Josué Lemos (lembram dele?) é figurinha carimbada na Vila Invernada. Homem de poucos dotes, mas esforçado que só. Troca courinho de torneira. Ajeita telha quebrada, faz carreto na feira etc. Faz tudo que lhe pedem. Seu bordão: “Não sou o melhor. Sou o que temos”. Barateiro, serviço não lhe falta. Dona Mafalda, mulher do Velho Marinheiro, adora Lemos. E a recíproca é verdadeira: “Um doce de criatura”.
Depois de hora e meia, se tanto, Lemos já fizera um bocado de pequenos reparos. Faltava apenas trocar a resistência do chuveiro do banheiro dos fundos – recanto predileto do nosso Lobo do Mar. Antes de concluir a tarefa, resolveu puxar um dedo de prosa com o caçador do bicho de pé imaginário.
-- O senhor tem visto Ananias?
O silêncio de cemitério do Velho Marinheiro não o intimidou.
-- Ele anda sorumbático, como diria Romualdo Bastos, o cruzadista. Lê o jornal. E diz assim: “Fulano está em férias. Beltrano foi pro sítio. Sicrana curte ondas. Só eu é que não vou pra lugar nenhum. Nunca soube o que é descanso.” Acho que ele está doente. Com hipertensão.
-- Hipertensão tinha sua mãe. Ananias tem depressão. É obcecado. Fala essas coisas porque é verão. No outono, lamenta porque não foi guarda metropolitano. No inverno, ele impreca porque todo mundo comeu a mulher do padre, menos ele...
-- E na primavera, de que ele reclama? – quis saber o barateiro do bairro.
-- De ter conhecido você. Vá trocar a resistência, homem de Deus. Fofoqueiro. Ande.