Um sonho adolescente.

Estava em uma festa na casa de um amigo -o Wallace -, que por conveniência era nosso amigo em comum. Ele estava dando uma festa na beira da piscina à noite. Uma "have" de máscaras, então, obviamente todos estavam mascarados.

Eu estava sentada à beira da piscina com mais duas amigas, conversando sobre algo que não me recordo, quando entraram na festa, -pelo portão que ficava na frente da piscina, depois de um longo jardim- quatro garotos, todos de preto. Eles passaram pelo jardim e pela piscina, em seguida entraram na casa, que estava atrás de nós, mas como estavam mascarados não conseguimos distinguir quem eram devido a baixa iluminação.

_Você reconheceu algum deles? - minha amiga perguntou.

_Não tenho certeza – foi o que respondi com dúvida, mas tinha quase certeza de que reconhecera um pelo cabelo.

Em seguida, eu entrei com a desculpa de ir pegar bebida pra gente, mas na verdade queria confirmar minhas suspeitas. Quando entrei, ele estava conversado com o DJ, perto de caixas de som absurdamente grandes. Fiquei atrás dele uns cinco metros apenas de distância ou bem próximo disso. Ele estava com um "headfone" vermelho, a única cor diferente no seu "look", que era todo preto. Quando ele se virou, me olhou e sorriu instantaneamente, isso me fez corar, mas continuei a olhar para ele. Em seguida ele se aproximou mais um pouco de mim com dois copos de 'drink's" nas mãos, como se soubesse que eu iria falar com ele. E estava pronto para me oferecer. Ele se aproximou sorrindo, mas não para mim, parece que curtia uma piada particular.

_Oi – foi o que ele disse com a voz quase inaudível.

_Oi – eu respondi, mas minha voz falhou, limpei a garganta e repeti, fazendo-o rir novamente.

_É de morango, sei que você gosta. – disse, aproximando o copo de mim.

Eu peguei o copo, e fomos pra um lugar reservado sentar em um sofá que formava 90º, de couro preto, começamos a conversar quando meu celular vibrou em meu bolso; era minha amiga que estava esperando por mim, - eu dissera que iria levar as bebidas- mas com o acontecido acabei esquecendo completamente. Pedi licença pra levar a bebida pra elas, mas ele não deixou, ele chamou um garçom e pediu que ele levasse dois drink's pra elas, eu fiquei sem graça com isso, porque imaginei que ele teria feito isso pelo fato de não querer que eu me afastasse dele. Egoísmo meu pensar que podia monopolizar a atenção dele? Não sabia, mas tinha quase certeza de que era isso.

_ Há quanto tempo você está aqui? – perguntou ele demonstrando interesse.

_ Não tem muito tempo, eu nem viria, mas a Alex e a Myla insistiram para que eu viesse, e cá estou.

_Então você não viria. – foi uma afirmação, ele parecia estar falando sozinho. – Lembre-me de agradece-las elas por isso – e deu um sorriso torto me fazendo ruborizar.

_Como quiser. – disse isso e me encolhi no sofá, envergonhada.

Eu estava muito tensa perto dele, quando ele se aproximou e colocou uma mecha do meu cabelo atrás de minha orelha fez com que eu me arrepiasse no mesmo momento. Mas ele parecia preocupado com algo, sua expressão permitia perceber isso de forma bastante clara.

_No que você está pensando? - eu perguntei.

_Não sei se devo. – ele disse com a voz fraca, mostrando uma real dúvida com a entonação da voz.

E eu automaticamente entendo o que poderia estar nas entrelinhas.

_Você pode sim. – afirmei confusa, mas com esperança de ser o que eu estava imaginando.

Nesse momento ele não me encarava, estava olhando não sei se para meu ombro ou por cima dele. Seus olhos estavam negros e indecifráveis, duros como pedra e com um fundo de cinismo quando contraiu a pálpebra inferior por uma fração de segundos, mas foi tempo suficiente para eu ter notado.

Após eu ter afirmado isso, ele me olhou nos olhos e sorriu.

_O quanto está certa disso? _ perguntou ele desafiando-me.

_Você pode sim, estou certa o bastante para poder lhe afirmar isso repetidas vezes. – o desafiei em contrapartida.

Ele deu um sorriso torto e deixou seu olhar vacilar por um instante ao redor do salão que se encontrava pouco iluminado, apenas com um jogo de luz preso ao teto, que era bastante alto em comparação com o restante da casa. Em seguida, após eu pronunciar a ultima palavra ele se levantou e ficou de pé na minha frente, estendeu-me a mão direita para que eu a segurasse e me puxou pra eu levantar também. Ele foi andando em minha frente ainda segurando minha mão, eu sem escolha e confiando nele, o segui sem saber pra onde estávamos indo. Quando chegamos ao pé da escada, que era feita de madeira de carvalho com um tapete cáqui preso por passadeiras douradas bem conservadas ele me olhou esperando encontrar algum olhar confuso ou uma pergunta na ponta da língua esperando o momento que ele me olhasse para ser feita, mas nada saiu. De uma forma assustadoramente inexplicável eu confiava nele e queria que ele soubesse disso. Começou a subir à escada e eu segui como se soubesse para onde estávamos indo, mas com uma curiosidade que me fez estremecer ao pisar no primeiro degrau.

Quando chegamos ao segundo andar, encontramos um corredor largo com quatro portas de cada lado e uma no fim do corredor de frente pra gente. Ele pegou uma chave no bolso interno da jaqueta e abriu a porta que continha gravada na própria madeira o símbolo do gás hidrogênio.

_Como você pegou a chave do quarto do Wallace? – perguntei envergonhada com minha dúvida boba, é claro que ele tinha pedido emprestada, afinal os dois eram muito amigos.

Mas em seguida já nos encontrávamos dentro do quarto indo em direção a varanda, chegando lá, ficamos olhando a piscina e as pessoas que dançavam e conversavam no jardim abaixo de nossos pés. Então ele me virou de frente pra ele e o vento fez meu cabelo vir pra frente do meu rosto, fazendo com que eu virasse de lado para arrumar-lo em um coque mal feito. Coloquei uma mecha de cabelo que se soltara do coque atrás da orelha e ele segurou minhas mãos do lado do meu corpo e me beijou na testa me fazendo fechar os olhos com força, um vento frio me fez arrepiar e em seguida levantei o rosto pra olhá-lo nos olhos, que brilhava a luz da lua cheia e tinha um leve tom de cinza, normalmente os olhos dele eram azuis, tão claros quanto o céu em um dia de sol.

Ele olhava o centro de minha testa, pensativo, eu estava louca pra saber no que ele pensava, mas estava com medo de falar algo que acabasse com aquele momento único.

Eu gostava, admirava e desejava estar perto dele, desde o colegial, o que fazia quatro anos, ele sempre agiu como se eu nunca tivesse existido, até o inicio desse ano, quando ficamos na mesma sala de aula, cursando o pré-vestibular, ele se sentou a meu lado em um dia por acaso e falou comigo pra tirar uma dúvida sobre uma letra mal feita no quadro, depois disso começamos a tirar algumas dúvidas e incrementar idéias sobre algumas matérias até chegarmos a uma real conversa, chegamos a almoçar umas três ou quatro vezes juntos, mas nada passou disso.

Depois de uns dez segundos olhando fixamente além de mim, me olhou nos olhos, mas sem expressão alguma, apertou minhas mãos, e em seguida os lábios contra os meus, continuei imóvel por uns segundos, quando a surpresa já esperada passou, soltei as mãos dele e o puxei pelo colarinho da jaqueta, o aproximando mais de mim, então ele apertou minha cintura e voltamos pra dentro do quarto, quando uma luz muito forte se ascendeu, era a luz do meu quarto que minha mãe tinha ascendido me fazendo acordar.

Juliany Moraes
Enviado por Juliany Moraes em 21/02/2014
Reeditado em 08/07/2014
Código do texto: T4700855
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