A CRÍTICA.

Existem três verdades no processo crítico, a dos críticos e a verdade absoluta. Esta última a ciência da lógica, no procedimento crítico, persegue, surgindo do contraditório. Na divisão de castas, de classes, o silêncio dificulta um denominador comum para o povo em sua unidade diante da nação politicamente organizada. Não existe acesso para troca de ideias.

A opinião se apara e se esmera nessa dialética. Cada um tem sua verdade formando o grande rio da discussão social, onde as margens são habitadas por variado contraditório, escorado em formações, quando existem, multifacetadas, plurais. Elas levam ao grande estuário do concerto de vontades, e deságua no mar da verdade absoluta.

Foi assim que a história apossou-se das grandes conquistas humanas, eviscerando a escravidão formal, fazendo cessar o feudalismo, estruturando o iluminismo, listando os direitos fundamentais humanos, hoje inscritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tudo conseguido através do processo crítico.

Todos exaramos nosso conhecimento com autossuficiência. O prefixo auto - hoje dobrado o “s” ou o “r” e suprimido o hífen antes de vocábulos que seguem o prefixo, iniciados com consoante “s” ou “r” - significa como antepositivo etimológico, do grego, AUTÓ, AUTÉS, AUTÓS, eu, “eu mesmo”. Por evidência, verdade absoluta em lógica histórica, de raiz das línguas latinas, autossuficiência é o convencimento pessoal, o “ eu mesmo” de cada um. Isso não significa verdade absoluta.

Não há como dar opinião, aceita por uns e recusada por outros, como social, sem ser com autossuficiência. Não seríamos nós mesmos; só caricatura.

Sou um crítico por natureza, um perguntador por profissão, formação, índole e para tentar ser mais desperto, veja-se, desperto do verbo despertar, e não esperto, e assim mais aprender e compreender. É posição de assimilação budista.

A crítica é o valor pensante mais alto da dogmática, sem a crítica o pensamento e suas conquistas não estariam onde estão, com todas suas setas atiradas para o futuro da humanidade. Sem Kant, o processo crítico não teria inaugurado a nova e moderna filosofia, e seus alicerces ainda seriam socráticos, aristotélicos e platônicos, para só ficar na tríade maior dos clássicos, as grandes vigas que se de forma alguma foram afastadas, pelo Kantismo se aperfeiçoaram ao lado dos seguimentos, aproximados pela ideia, “pensar a ideia”, notáveis e novos caminhos, como por exemplo, “pensar Deus” e a liberdade, esta que tanto influenciou politicamente.

Nessa esteira deve ser dogma da inteligência fazer crítica e estar aberto à crítica. Quem assim não se posicionar está fadado à estagnação no estamento cerebral. Não se pode debater com a insciência que caminha “pela rama”, mesmo e ainda, e pior, no motor de seu veículo, este errático. Não o faço, só aprendo com o que há para aprender. O processo crítico tem suas características acadêmicas, não faz parte de um mero folclore popular.

Se nada há para incorporar, silencia-se, acionar a indiferença é discriminatório e inferioriza mais a inferioridade. Mas a crítica deve estar presente em qualquer lugar onde "pensar a ideia", como estabeleceu Kant, se impõe.

Não houvesse crítica, o ser humano não teria ultrapassado os pórticos da insciência para alcançar seu desenvolvimento como pessoa fazendo a cultura dos povos. A crítica é o arauto das grandes inteligências que foram alicerces da formação do pensamento humano culto e do progresso em geral. Sem a crítica, o homem não estaria no atual plano do conhecimento, o grupo não teria feito conquistas saindo da mera sobrevivência para a organicidade.

Para se afastar do erro, o espírito (conhecimento educacional) há de estar treinado para a absorção. Sem a aceitação da crítica o mergulho na abissal incultura se aproximará velozmente e não haverá saída de forma alguma do obscurantismo. É, pois, questão de escolha.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 21/02/2014
Reeditado em 21/02/2014
Código do texto: T4700444
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