Entoar um novo canto

Acredite! Ouço um galo cantar aqui no meu bairro! Nestes dias de intensa preocupação com a falta da chuva, deixando mostrar para todos os cidadãos, a fragilidade dos nossos mananciais, portanto, das nossas vidas, estas que, pulsam ao sabor das águas, ouço um galo cantar em um dos quintais do Bairro Alto. O seu relógio biológico um tanto desequilibrado, o faz cantar durante o dia. E, eu, curto! Ouvi-lo cantar trás felicidade! Morando no interior tivemos a alegria de brincar em quintais arborizados, na maioria deles, um galinheiro completava a alegria da criançada. E, lá, estava ele, empertigando-se todo, esticando o pescoço, o mais alto possível para jogar o seu canto para as copas das árvores.

De repente, o galo índio do vizinho, respondia num cantar de macho, demarcando o território. Outro canto mais distante se fazia ouvir..., uma cascata de cantos entra pelos nossos ouvidos, cada galo, com seu canto, forma um coral tão elaborado, embelezando as madrugadas da nossa infância!

Alguém pode dizer: “O galo cantou para avisar sobre a negação de Pedro!” Acho interessante pensar em um galinheiro bem no centro da cidade de Jerusalém, mais especifico ainda, na casa do sumo sacerdote, se o Novo Testamento, cita a proibição de a população criar gado miúdo em Jerusalém! Será que, o emplumado cantou mesmo por lá? Mas, voltando pro nosso galo do Bairro Alto, constato a dura realidade, o seu canto não é devolvido numa cascata de cantos, o seu canto é solitário, único!

Aonde foram parar os galos dos vizinhos? Aonde foram parar os galinheiros? Aonde foram parar as árvores dos quintais? Aonde foram parar os quintais? Tempo de crescimento imobiliário desenfreado, descaracterizando tudo que encontra pela frente, derrubando árvores, secando mananciais, matando os nossos quintais! Sem quintal, sem galinheiro! Sem galinheiro, sem galinha! Sem galinha, sem galo! As madrugadas ficaram barulhentas: buzinas, brigas, sirenes, som em alto decibel..., tudo memorizado pelos cidadãos na era da alta tecnologia! Tenho medo!

Medo, leitor, que algum desmemoriado cidadão tenha se esquecido do canto do galo, e, venha a implicar com o belo canto do nosso galo! Nosso!? Isso mesmo, nosso galo, ele que, agora, acaba de esticar o seu pescoço para lançar o seu canto para as copas das árvores. Arvores!? Explique você, leitor, para o galo, que as árvores foram trocadas por altos edifícios sem quintais... Explique!

Por favor, cidadão piracicabano, ou, não..., residente no Bairro Alto: “Deixe o nosso galo cantar em paz!”

Com muita alegria publico o belo comentário da nossa querida Recantista_ Isabel Ramos

Emocionante de tão bela, verdadeira, sábia e muito interessante a tua magistral crônica, que nos leva a refletir sobre essa realidade tão dura em que os encantos dos nossos saudosos quintais transbordantes de magia, foram emplodidos pelo progresso dos condomínios onde tudo é angustiantemente coletivo e chão concretado... A terra?... As crianças, nem sabem por vezes como era bom fazer bolos e bonequinhos com ela! rs... Hoje no mais, é a areia do parquinho ou da praia... Quando lá podem ir!... Galos então! Jesus! É algo surreal!... Estive numa pousada interessante na Bahia e lá tinha tudo que um quintal tinha. Fiquei maravilhada, mas só que as crianças ficavam aterrorizadas com os animais principalmente com galos e galinhas! Talves pensavam estar num zoológico! kkkkk Tomara que ninguém daí implique com esse sobrevivente na selva de pedra e que ele nem note que não tem mais copas de árvores para jogar o seu canto... Ah!... Morreria de tanta tristeza tadinho!... Voei no teu escrito para o quintal da minha meninice... Lá eu soube o que era felicidade sem data de validade! O tempo não era cronometrado, mas sim aproveitado!... Parabéns por tanta beleza e expressividade no teu contar Ana amiga!... Bjsss poéticos.