Esse ser que vem de Vênus

Um dia desses fui questionado por uma dessas questões que, supostamente, dizem mais do que a simples resposta, para mim, “psicologia” barata, mas até que gostei da pergunta: “Se você fosse escolher qual o ser mais importante que foi inventado?” e aí existiam respostas variadas e explicações mais ainda... Aquele que escolheu as plantas vive em atmosferas árcades, precisa urgentemente se ausentar da urbanização e vestir o verde, já aquele que escolhe o ser humano tende a ser egoísta, tomar decisões individuais, pessoa que não é indicada para cargos humanos e trabalhos em equipe. Nunca me convenceram de que uma blusa de um matiz pré estabelecida influenciaria meu astral, ou que, de repente, algo como minha escolha de uma boba questão, defina minha personalidade.

Mesmo pensando nessa bobagem, nunca fui de questionar a vida e suas questões, quer dizer, nunca pensei demais, e titubeei aquilo que me veio como óbvio e repentino:”A melhor criação foi a mulher”. A resposta poderia vir elaborada, mas como a enquete me foi feita em circunstâncias informais preferi não justificar, e fiquei com esse fiapo de manga entre meus pensamentos, tive tempo de esquecê-lo, até pela sua relevância mínima, mas não... Em meio às minhas orações essa questão teve a petulância de importunar meu momento mais ágape e fui levado pela minha escolha.

Com tantas opções que tinha com a pergunta porque não simplesmente respondi o leão rei da floresta, ou simplesmente o ser humano... Mas não, de uma homenagem singela a classe me senti impulsionado a responder MULHER. Sempre fui um grande estudioso dessas, afinal nasci de uma delas, a mais feroz e impulsiva que conheço, admirada e idolatrada sempre, tenho avós que me mimaram e que me arrancam orgulho e porque não falar de minha tia, poetisa, batalhadora, viva, voraz! Mulheres... foram vocês que me conduziram ao que sou, respondem minhas angústias, reflito em mim todos os seus sonhos furtados, roubados pelo mundo preconceituoso.

Tentando fugir dessa atmosfera pessoal pensei no porquê de eu ter diferenciado a mulher da espécie humana, e logo cheguei a conclusão de que tal ser é místico, é maternal, é mulher. Como se torna difícil para mim, falar de um ser tão versátil que hora é mãe de um recém-nascido outra, mãe de órfão, que tem a firmeza de botar na cama e a ternura de acordar com beijos.

Quantas faces tem uma mulher? A pergunta só pode ser respondida de um jeito, depende de quantas maneiras ela for desafiada a ser e mostrar. Paro e penso sobre manias das mulheres... Por exemplo o seu hábito incomum de irem ao banheiro juntas, posso dizer que desconfio de tal atitude mas já imaginei mundos escondidos, aliás, devo confidenciar que uma das minhas curiosidades maiores quando menor era entrar em um banheiro feminino, pensava em encontrar coisas que via em fábulas, e confesso que fiquei extasiado quando me disseram que lá não existia mictório... Ganhei mais objetos de pesquisa.

Depois que cresci um pouco comecei a entender a não existência do mictório, e algumas coisas mais que fui juntando de minhas pesquisas de campo, aliás, não precisava sair de casa para realizá-las as pesquisas vinham até a mim, minha casa é celeiro de mulheres, e que mulheres! Delas retirei tudo que sei sobre feminilidade e coisas mais... E que grande escola é a escola, lá vi de tudo que existe de projetos de mulher, aliás, vi mulheres sim, vi meninas, me apaixonei algumas vezes... Garotos... Mas me orgulhei de minha geração, mulheres altivas, decididas, independentes sobretudo, e fiz amigas, das quais tenho um amor mais que fraternal, até um pouco materno mesmo... e como as amo.

Voltando ao banheiro feminino, nunca pude matar minha curiosidade(até agora), mas suponho existir um pacto entre as mulheres, que as faz ir aos banheiros para retocar sua maquiagem de amor, quem sabe se vestir de paciência, já ouvi que a autoestima de uma mulher é tudo, vai ver que o banheiro seja um anexo de Vênus, sim, foi de lá que elas vieram. E quando podemos nos defrontar com uma mulher de autoestima alta, é lindo, é mágico, é imponente sua beleza, mesmo que com a delicadeza existente, sua imponência no sorriso, seu mistério no salto alto, até as lufadas de ar propiciam o melhor arranjo para os seus cabelos soltos... A natureza é mesmo delas.

Ainda por ser homem presenciei momentos de exaustão com as mulheres de minha vida, lojas de roupa, sapatarias, saídas, tudo é motivo de espera, a mulher precisa de tempo, não para amadurecer como nós homens, mas para encarar o mundo delas, sem enfeites, sem requintes, sem filtros, ser mulher é ser natural, naturalmente amor. Acredito que aqueles momentos de espera que passei refletem o que todos os homens pensam, mas caramba, o tempo para elas é necessário, seja para colocar sua armadura contra sua eminente insegurança ou mesmo para cuidar de seus filhos... Mulher é também paciência em forma de gente.

Como não admirá-las? Como viver sem elas? Quanto amor a de caber em seus corações encarnados? Quanto tempo é mesmo necessário para se arrumarem? O que é se arrumar para uma mulher? Quais seus temperos especiais? E suas essências? Como nunca magoá-las? Como não viver sem elas? Amar, amar, amar, seres de assim é que me fazem acreditar que o mundo rosa seja mesmo o tão esperado mundo de seios e progesterona, em que eu, homem, viva de dúvidas.

Gabriel Amorim 20/02/2014