Nada de novo no Brasil
 


 
                               George Eliot, citado por Steven Pinker,  dizia que a arte é a coisa mais próxima da vida, uma maneira de nos por cara a cara com a experiência e estabelecer contato com nossos semelhantes, muito além dos  estreitos limites do “nosso torrão pessoal”.
                               O que quero focalizar nesta crônica é a escalada de violência que estamos vendo no Brasil. E para minha tristeza, o que vi dos chamados black-blocs foi uma grosseira imitação de um movimento alemão de 1980. Com o mesmo nome, esse grupo, sempre de jovens,  resolveu praticar violência dirigida a objetos e não a pessoas, mostrando sua insatisfação com o Governo.
                               Aqui, segundo leio, o motivo da ira se destina ao capitalismo, por isso a depredação de bancos e lojas do comércio.
                               E esses jovens, que pareciam autênticos, recebiam secretamente a importância de R$150,00 para demonstrarem sua revolta. Como sempre, a incoerência e o paradoxo do ser humano:  ganhavam dinheiro para destruir o capitalismo, tudo orquestrado por pessoas que querem subverter a ordem.  A morte de alguém ou de muitos estava prevista desde o ano passado. Como Deus é brasileiro e o Papa argentino, demorou um ano para surgir a primeira morte, a morte do cinegrafista da  TV Bandeirantes.
                               Dois jovens foram presos e denunciados. O mais agitado nas badernas do Rio, na Central do Brasil, depois de preso, ficou praticamente mudo, apenas balbucia quando a imprensa fala com ele. Parecia mais um ventríloquo, pois os lábios nem se mexem. E o outro parece sofrer de gagueira, dificultando muito a sua fala. Aliás, os dois não têm o que dizer e nada sabem da vida, um com 23 anos e o outro com 22.
                               Fico pensando na ironia de acontecer uma “revolução” proveniente desses dois, pelos quais tenho profunda compaixão. E deixo claro que não defendo o capitalismo e muito menos governos radicais, seja da esquerda ou da direita. Não desejo e não quero entrar em polêmica política.  Quero  apenas a paz  entre os homens.
                               Sobre a inutilidade das guerras e dos governos radicais todos os pensadores  do mundo já disseram tudo.  E nós não aprendemos.  Interessante que os ditadores invariavelmente matam seus próprios cidadãos. Mao, na China, matou apenas 40 milhões. Stalin, 45 a 60 milhões. Hitler, 06 milhões de judeus e mais os  homossexuais e ciganos. Não tenho ânimo para detalhar toda a matança. Essa citação rápida já me horroriza.
                               Há muitos romances sobre as guerras e em “Nada de novo no front”, de Erich Maria Remarque, extraí de um livro do psicólogo evolucionista Steven Pinker, este trecho, onde um jovem soldado alemão examina o corpo de um francês que ele acabou de matar:
                               - “Vou escrever para sua mulher. Ela não sofrerá, vou ajuda-la, e seus pais também, e seu filho... Hesitante, pego a carteira. Ela cai de minha mão e se abre( ...) Há retratos de uma mulher e de uma menina, pequenas fotografias amadoras, tiradas diante de um muro coberto de hera. E, junto com elas, cartas” .
                               É preciso que a sociedade civilizada não se engane e não se deixe enganar pelos oportunistas e saiba  preservar a nossa democracia, tão custosamente conquistada .É a única forma de governo que pode nos dar a paz entre os homens. 
                               A grande lição nos foi dada pela esposa do cinegrafista morto ao lembrar que os dois baderneiros não tiveram uma educação de amor ao próximo. E ela tem inteira razão: a baderna, o ódio aos outros, o vandalismo,   a guerra, seja ela qual for, será sempre imoral, animalesca, perversa e desumana. 
                               Platão dizia que as emoções descontroladas assemelhavam-se a cavalos selvagens e tinham  que ser domados pelo intelecto. Eu diria: domados pela razão.
                               E, dado o meu recadinho, não consigo finalizar sem uma   boa  pitada de  humor, que meu anjo bom me faz lembrar, até para suavisar os rojões que explodem em nossas cabeças, vindos da sempre descontrolada violência humana.   Um dos maiores santos da Igreja Católica, Santo Agostinho, costumava rezar assim: “ Oh, meu Deus, faça-me casto, mas não agora.” É o que eu teria aconselhado, tivesse vivido na Idade Média, ao infiel escudeiro Lancelote,  por sinal domador de cavalos selvagens, e que furtivamente manteve um romance com a mulher do  grande  Rei Artur da Távola Redonda.