Tio Augusto
Elsa B. Pithan
12/01/2014
Já estava beirando os 60 anos e aposentado ainda trabalhava na Loja Funerária que era de propriedade de seu sobrinho. Chegava na Loja todos os dias às 7 horas da manhã em ponto e só voltava para casa onde morava com duas irmãs solteironas no arrabalde de Teresópolis às 7 horas da noite. Isto todos os dias. Cochilava seguido durante o dia e os empregados da Loja faziam troça dele. Era um traste que só servia para limpar as duas escarradeiras de louça floreada que era costume se usar em certas lojas. Ninguém dava nada por ele. Mas ele tratava todos sempre com o maior respeito. Até eu às vezes ia passar uma pena de galinha no nariz dele enquanto ele dormia. Tio Augusto me reprovava mas nunca me tratou mal. A Loja ficava na Praça do Portão defronte ao Batalhão do Sétimo. Todos os dias ele passava por ali e cumprimentava os soldados que davam guarda e que já o conheciam bem. Já até havia dito para eles onde morava e com quem.
Naquela noite de 3 de outubro de 1930 não iria ser diferente se não fosse pela Revolução que arrebentou lá pelas 6 da tarde. Tio Augusto vestiu seu casaco e atravessou a rua direto para o Batalhão do Sétimo. Os guardas reconheceram o Tio Augusto e perguntaram Onde vai abaixo de balas? e o Tio responde Vou para minha casa. Minhas irmãs estão sozinhas e eu tenho que cuidar delas. Os guardas deixaram-no passar e Tio Augusto chegou são e salvo na sua casa onde as duas irmãs debaixo de uma cama choravam amedrontadas.
Quem diria, não é, Tio Augusto?