RETRATO DE UM BÊBADO
Chegou a casa depois um dia de trabalho exaustivo. Deu banho na filha caçula, e no filho do meio. Depois, separou a roupa da filha mais velha, entregou nas mãozinhas dela (ela só tinha 6 anos) e mandou que fosse tomar seu banho. Colocou o jantar no fogo e lavou a louça que estava sobre a pia.
As crianças brincavam na sala em frente da televisão.
Olhou para os filhos sentindo pena de si mesma e das crianças. A mais velha saiu do banho com o cabelo molhado e desalinhado:
-Mãe, prende meu cabelo?Eu não consegui...
Ela olha a filha:
Linda. Com seus grandes olhos azuis a fitando inocentemente.
Seus três filhos eram todos lindos, cada um a sua maneira: a mais velha: morena de olhos azuis, o do meio de olhos castanhos como o pai e a caçula de olhos verdes como os dela.
O jantar fica pronto. Ela serve para os filhos, depois brinca com eles por algum tempo, faz com que eles escovem os dentes e depois os põe para dormir.
-Ah mãe!Eu ainda não estou com sono!Não quero dormir agora.
-É melhor você irem dormir. Seu pai está demorando e quando ele demora é porque ele está no bar bebendo.
-A gente vai dormir quando escutar ele chegando. Deixa mãe...?
-Está bem!Mas quando seu pai chegar vocês vão dormir sem fazer barulho.
-Obaaa!!!
Os filhos ficam brincando na sala até que ouvem passos pelo corredor. A filha maior estremece. O do meio a segue para o quarto. A mãe coloca o bebê para dormir. Eles se calam.. Fecham os olhos e esperam. A mulher ouve o trinco da porta sendo aberta. Ele entra cambaleando. O rosto vermelho pela bebida. Ela olha para ele e esse simples gesto parece o ofender.
Ele começa a ofendê-la. Fala alto. Xinga. Ela pede que ele fale baixo. Ele diz que está na casa dele, que pode falar como quiser. Ele fala.... Fala... Fala... E ela se cala. Sente que as lagrimas deslizam sobre seu rosto. Depois de ofender e falar o que queria, ele se dirige ao banheiro. Da sala ela ouve os ruídos do vômito dele. De repente tudo se torna silencioso. Devagarinho ela vai até a porta do banheiro e espia cuidadosamente:
-Lá está: debruçado sobre uma poça de vômito, ele dorme...