Sujeito mais tímido

Todo mundo estranhou quando o Felipe – o Felipe! – chamou o pessoal para sair. Bolas, o Felipe era o sujeito mais tímido da turma. Não abria a boca para nada, muito menos para convidar alguém a fazer alguma coisa. Normalmente era ele quem precisava ser convencido a sair de casa. Preferia ficar sozinho na frente do computador. Mas o pessoal insistia, vamos sair, Felipe, que diabo, sai da frente dessa máquina e vai viver a vida. De vez em quando dava certo e ele saia com a turma. Mas a verdade é que não fazia muita diferença se ele fosse, porque ficava tão calado que ninguém nem se lembrava que ele estava junto. Então era realmente de se estranhar que o Felipe estivesse chamando o pessoal para sair.

Só que aconteceu o seguinte: ninguém estava a fim de sair naquele dia. Poxa vida, era começo da semana e todo mundo só queria chegar do trabalho e descansar em casa mesmo. E o Felipe ainda por cima não tinha nenhum programa em vista: queria sair, mas não sabia pra onde. A turma toda falando, deixa pra outro dia, Felipe, e o Felipe batendo o pé, queria naquele dia mesmo. E ficou insistindo tanto que, quer saber, vamos sair com ele então. Até porque, tinham que aproveitar esse momento, quem sabe a partir daí o Felipe passasse a se soltar mais. E como o Felipe não sabia o que queria, foram todos para o shopping mesmo e lá decidiriam o que fazer.

Primeiro pensaram no boliche. O Felipe detestava boliche, mas ficou quieto. Depois decidiram ir num daqueles lugares com simuladores eletrônicos, jogos em 4D e coisas assim. Também não era este o desejo do Felipe, que tinha pensado em um cineminha, algo que não exigisse muito dele nem colocasse à prova o seu desempenho. Mas é claro que ele não falou nada disso. Acabou aceitando ir para o fliperama mesmo. A turma se divertia a valer, mas o Felipe não queria estar ali. E tanto não queria que, na primeira oportunidade, sem que ninguém desse pela coisa, saiu correndo. Voltou para a frente do computador.