PERDAS
Emprestado em consignação por: Angelo Magno
Já haviam se passado vários instantes de um momento da eternidade quando Sonia se deu conta de que o tempo não voltaria mais. Contou, recontou, descontou e sua constatação permanecia impotente, como se a vida não passasse de um grande retrovisor.
Ela havia passado por todo o catecismo de quem vê a vida com as lentes caleidoscópicas do adeus e nada parecia afastar as paredes emocionais que as impedia de abrir o coração. Em uma casa onde estas paredes são pintadas de amor, ela via apenas cores desbotadas pelo tempo, onde os jardins são regidos pela coreografia dos ventos, ela via apenas deserto, quando alguém procurava transmitir afetos, ela via apenas interesse egoísta.
Deitada naquela cama, em seu quarto tão manchado de velhas lembranças, Sonia desejou voltar para algum momento eterno, procurou regressar para onde seu coração não jazia em dor, procurou, procurou e procurou. Em seus últimos suspiros, o leito vazio de afetos e inundado de solidão, atestava seu legado - o medo de amar.
A existência de Sonia, a qual não havia traspassado qualquer coração, estava a se encerrar metaforicamente, pois a morte já havia levado todo o amor para além dos seus pés descalços. Deixaria de respirar e sua consciência se perderia naquele momento, mas a vida já havia falecido em seu coração há tempos.
Concluiu, finalmente, que quem ama pode sofrer perdas, mas que são parte de momentos da vida, por outro lado, não amar produz uma perda eterna.
Quem vive como se não fosse morrer, provavelmente morrerá como se não tivesse vivido.
Estocado em: CRÔNICAS
Leia também: ATEMPORAL de Denise Matos
Emprestado em consignação por: Angelo Magno
Já haviam se passado vários instantes de um momento da eternidade quando Sonia se deu conta de que o tempo não voltaria mais. Contou, recontou, descontou e sua constatação permanecia impotente, como se a vida não passasse de um grande retrovisor.
Ela havia passado por todo o catecismo de quem vê a vida com as lentes caleidoscópicas do adeus e nada parecia afastar as paredes emocionais que as impedia de abrir o coração. Em uma casa onde estas paredes são pintadas de amor, ela via apenas cores desbotadas pelo tempo, onde os jardins são regidos pela coreografia dos ventos, ela via apenas deserto, quando alguém procurava transmitir afetos, ela via apenas interesse egoísta.
Deitada naquela cama, em seu quarto tão manchado de velhas lembranças, Sonia desejou voltar para algum momento eterno, procurou regressar para onde seu coração não jazia em dor, procurou, procurou e procurou. Em seus últimos suspiros, o leito vazio de afetos e inundado de solidão, atestava seu legado - o medo de amar.
A existência de Sonia, a qual não havia traspassado qualquer coração, estava a se encerrar metaforicamente, pois a morte já havia levado todo o amor para além dos seus pés descalços. Deixaria de respirar e sua consciência se perderia naquele momento, mas a vida já havia falecido em seu coração há tempos.
Concluiu, finalmente, que quem ama pode sofrer perdas, mas que são parte de momentos da vida, por outro lado, não amar produz uma perda eterna.
Quem vive como se não fosse morrer, provavelmente morrerá como se não tivesse vivido.
Estocado em: CRÔNICAS
Leia também: ATEMPORAL de Denise Matos