A REENCARNAÇÃO É UM FATO, E A PROVA DISSO ESTÁ NA CARA. EU CONTO

A reencarnação é um fato, e a prova disso está na cara. Eu conto.

Na cara do Edivaldo, na fisionomia estampada na cara dele, notei uma mudança considerável hoje de manhã. Temos o mesmo sangue, e os laços que são comuns a todas as famílias ora nos aproxima, ora distancia um para cada lado como se falássemos línguas diferentes. Assim é que na adolescência éramos irmãos depois de uma infância sendo primos. Assim foi até o fim da puberdade quando a vida se torna ensaio para a maturidade. Nesse intervalo entre atos, porque a maturidade chega de forma muito particular para cada um, os laços que antes nos aproximava se afrouxaram ao ponto de parecer que não se tratava mais de uma questão de sangue ou de família. Talvez porque nos enveredamos por linguagens diferentes, buscando com ânsia desproporcionada, falar uma língua que fosse entendida por todo o mundo. Ou talvez porque o humor e o temperamento de cada um estivessem à deriva no oceano da personalidade.

O fato é que hoje de manhã reencontrei essa pessoa que é um homem maduro. Tive a impressão de vê-lo mais magro quando tentou, sorrindo, se desfazer de um pacote pesado para estender a mão em cumprimento. E me perguntei feliz: será que é ele mesmo?

A resposta foi perceber na cara dessa pessoa, como dizia há pouco, na fisionomia estampada na face do meu parente, inumeráveis rostos que sobrepostos pareciam emergir de outros tempos, de outras encarnações. Sobreposto ao sorriso amável a rigidez do cenho preocupado em ganhar a vida, contornar as mazelas, alcançar objetivos. Um olhar difuso parecia ainda ver o primeiro amor dizendo adeus e, logo, o brilho dos mesmos olhos apaixonados e apertados de alegria, sorriam para mim. Quase ao mesmo tempo, num átimo.

Transfigurado, na minha frente, uma pessoa conhecida era um completo estranho. Transmutado: ainda era o menino que cresceu na capital, que aprendeu ioga e lia “o ponto de mutação” e confeccionava flechas de bambu sonhando, talvez, em ser livre como um índio quando crescesse.

Na película líquida e fina que era a face dele eu vi personagens que não conhecia, tentei adivinhar minha própria estampa.

A reencarnação é um fato, e a prova disso está na cara. O desfile das máscaras sob o perfil fino de água, às vezes cristalinas, turva-se.

O melhor que posso é evitar o espelho enquanto escrevo para fixar o instante no caudaloso rio da existência.

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 18/02/2014
Reeditado em 18/02/2014
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