" Aeroporto ou Rodoviária"?

“Aeroporto ou rodoviária”?

Jorge Linhaça

Ontem me deparei com o relato de mais um caso de pessoas nitidamente despreparadas para o convívio social nestes novos tempos em que, felizmente, mais pessoas tem acesso a serviços e produtos que não passariam de sonhos de uma vida inteira alguns anos atrás.

Uma professora universitária, da PUC-RIO, incomodou-se com o fato de uma passageiro no aeroporto aguardar pelo seu voo trajado de maneira menos formal, usando camiseta regata e bermuda. Foi o que bastou para que a mesma fotografasse o indivíduo, sem sua autorização, violando a sua privacidade e se achasse no direito de publicar a foto em uma rede social com o comentário jocoso que utilizo como título desta crônica. Não bastasse isso e outros , professores, colegas da mesma faculdade, seguiram a chacota, demonstrando que o nível de cidadania desses professores é muito mais baixo do que a presumida classe social do passageiro em questão. Notem bem que uso a palavra professor e não a educador neste momento, afinal, há uma grande diferença entre os dois.

Um educador, educa, leva a pensar e repensar o mundo, faz o educando encontrar os seus próprios caminhos a partir de então.

Um professor, professa, ou seja, procura reproduzir na mente dos alunos a sua própria verdade, seus medos e preconceitos, sua visão estagnada do mundo que o rodeia.

Mas isso é assunto para outro texto.

A questão que se nos apresenta, neste momento, é o quanto pessoas, aparentemente, intelectualmente preparadas podem deixar-se enredar na armadilha da notoriedade e fama fáceis. As redes sociais estão repletas de pessoas que parecem viver de “curtidas” ou “compartilhadas” e que não medes esforços e nem consequências para, quem sabe, se tornarem os “famosinhos” da vez.

A questão é que, quando essa “doença” atinge pessoas formadoras de opinião, que por conta de sua função são quase que obrigatoriamente seguidas por centenas ( ou milhares) de alunos, e o senso de responsabilidade não acompanha o ritmo de suas postagens, ocorrem fatos como este.

O que se viu no “post” da tal professora foi um preconceito explícito contra o que ela julga ser uma aberração dos tempos modernos, ou seja, pessoas de menor renda dividindo o saguão do aeroporto com os antigos privilegiados. O sinal de alerta, captado pela dita senhora, foi o traje do passageiro, que depois, ficou-se sabendo ser um advogado, sócio em um escritório de advocacia e que já alertou para a possibilidade de processar a dita cuja por danos morais.,

O comportamento da professora e seus colegas, ridicularizando uma pessoa que lhes pareceu fora de seus padrões pessoais demonstra o quanto existe de preconceito social em nosso país e o quanto ele é democrático, atingindo todos os segmentos da sociedade, inclusive aqueles que deveriam ter por obrigação, evitar reproduzi-lo.

Muito se fala da violência em nosso país, de suas causas e tudo mais, pois bem, uma dessas causas é exatamente o desrespeito e o sentimento de superioridade que alguns tem para com os outros. Uma pessoa que sente-se humilhado por toda uma vida, simplesmente porque sua condição financeira impede seu acesso a produtos de marca ou serviços de qualidade, pode, e isso cada vez aparece mais em nossos noticiários, chegar a um ponto de tensão tamanho que o fino liame que divide a indignação da violência pode romper-se a qualquer momento.

É o caso das manifestações que acabam em tumulto, onde os baderneiros “infiltrados” sejam eles pagos ou não, só chegam a ser manipuláveis a esse ponto porque já chegaram ao seu limite de tolerância.

Quem conhece um pouco de história e vai além de datas e fatos, sabe que todas as revoluções sociais se deram por conta do rompimento de tal liame de tolerância, tenha isso ocorrido de maneira espontânea ( casos mais raros) ou para atender interesses de determinados grupos.

A verdade é que os “bois de piranha”, ou seja o povo, é que marcha para o cadafalso quando os movimentos não atingem seus objetivos, enquanto que os articuladores “ocultos” (?) recebem no máximo um puxãozinho de orelhas das autoridades.

Portanto, faz-se mais do que necessário que as pessoas se ocupem menos em destilar ódio e preconceito nas redes sociais e se ocupem mais de procurar construir uma sociedade alicerçada em ações positivas ao invés de em rixas sócias ou partidárias.

Talvez eu não esteja aqui para ver tal sociedade desenvolver-se, mas enquanto aqui estiver hei de manifestar sempre a minha opinião sobre as inconsistências que percebo serem alavancadas por redes sociais, pela mídia e por pseudo educadores.