Últimos degraus da dignidade

Perdi toda a dignidade. Tudo o que uma pessoa jamais deve fazer, todas as humilhações às quais pessoa alguma deve se submeter, eu me submeti. Isso porque eu sou obcecada por ele. Eu ainda tinha 17 anos quando me apaixonei. Ele tinha 43 e era casado com uma amiga da minha mãe. Na época eu não namorava, não saia, não tinha vida social. Era extremamente tímida. Mas eu me apaixonei por ele e isso dura até hoje, o que torna tudo ainda mais sórdido.

Porque ele me trata muito mal. Ele me engravidou e convenceu todo mundo que eu era a louca que tinha inventado a história. O pior é você ouvir o sujeito falar que o pai pode ser qualquer um menos ele, precisar de teste de DNA pra reconhecer a filha e ainda assim viver obcecada por ele. É que apesar de tudo o que ele faz, ele às vezes se aproxima de mim e diz que me ama, que só age daquele jeito porque precisa. E isso pra mim basta. Caramba, como alguém pode fazer de conta que aceita algo assim? Isso pra mim é sordidez e eu perdi a dignidade.

Mas eu tive minha filha mesmo assim, mesmo com ele fazendo todo tipo de chantagem pra eu abortar. Eu não dei ouvidos, por mais obcecada que eu estivesse. Eu nunca conseguiria carregar a culpa de um aborto. Eu morava com os meus avós e eles me expulsaram assim que souberam que eu estava grávida. Fiquei vários meses morando na casa de uma amiga. Até que eles viram que já tinha muita gente contra mim e ficaram com pena. Porque eu virei a piada da cidadezinha de sete mil habitantes. Só aí eles me chamaram de volta.

No começo a minha mãe também ficou com muita raiva de mim. Mas ela ficou do meu lado quando a mulher do sujeito tentou passar com o carro por cima de mim. (Eu estou parecendo muito dramática? Não quero parecer). Ela tentou passar com o carro por cima de mim. Fiquei em choque, meu leite secou, minha filha nem foi amamentada por conta disso. E depois de tudo eu continuo atrás dele? Não, eu realmente desci os últimos degraus da dignidade.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 17/02/2014
Reeditado em 17/02/2014
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