DICIONÁRIO INFANTIL

Prof. Antônio de Oliveira

antonioliveira2011@live.com

Nando Reis, na canção Diariamente, diz que dicionário é para todas as coisas; e para que todas as coisas fiquem prontas é preciso paciência.

Segundo a Folha de S. Paulo, de 24-11-2013, o professor colombiano Javier Naranjo bolou um jeito especial de fazer dicionário ao vivo, para todas as coisas, aleatoriamente, ouvindo crianças. E isso na biblioteca de uma escola do Complexo da Maré, conjunto de favelas na zona norte do Rio. Como método, Naranjo sorteia temas, na sala de aula, para alunos com idade entre 7 e 12 anos. O desafio, para cada criança, consiste em dar um sinônimo ou explicar, em poucas palavras, o significado do verbete sorteado, a modo de um dicionário e de modo a dar o seu recado. E o professor, fascinado, grava as respostas. Em sua opinião, de conteúdo surpreendente, emocionante.

Para uma dessas crianças, foi sorteada a palavra “político”. Sabem o que ela respondeu? Político é o mesmo que corrupto. Solidariedade equivale a ‘ser gentil’. Ao falar sobre ‘paz’, uma menina disse que é uma coisa que ela não tem no sábado, à noite, por causa do barulho provocado por um baile funk, perto de sua casa.

No país de Naranjo, Colômbia, uma menina de 6 anos já havia respondido que ‘amor’ é o que cada coração reúne para dar a alguém. Em sala de aula, ao definir a palavra ‘criança’, uma das alunas afirmou ser alguém que ‘tem ossos, tem olhos, tem nariz, tem boca, caminha e come, não toma rum e vai dormir mais cedo’. Violência, numa visão curiosa, mas que faz sentido, uma aluna de 7 anos disse que é a parte ruim da paz. Entendo isso como a significar que, mesmo num ambiente de paz, ainda há espaço para violência. Essa visão infantil e madura me faz ir longe, à Guerra e Paz, de Tolstoi.

Tudo isso despertou a atenção de Naranjo para o que já se transformou em livro desde 1988. O projeto se realiza em, pelo menos, cinco países: Colômbia, Brasil, Argentina, Chile e Estados Unidos. Uma boa notícia, Folha.