Internalização

Vincent Benedicto

17/08/2005

Internalizar? Essa é a coqueluche do momento. Você conhece esse verbo? O que será realmente isso?

Antigamente logo após a época dos computadores movido a carvão os famosos "XT’S", conhecemos uma palavra que ficou familiar.

A Inicialização.

Com a chegada dos novos computadores no mercado os 286’s da vida, vinham com o sistema operacional Windows 3.1, que quando abria, aparecia na telinha " aguarde a inicialização do Windows".

Então era a inicialização de um projeto, de um programa, de uma construção, de um discurso enfim... tudo era inicializado.

Os políticos foram os primeiros a usar o verbo de uma forma constante.

Ouvi muito discursos na TV do tipo. Agora vamos inicializar uma nova campanha contra aids, contra o fumo e etc...

De uns tempos para cá, os mesmos políticos aplicaram em seus vocabulários um outro verbo.

O verbo Contabilizar.

Trocaram a palavra "caixa dois" por dinheiro não contabilizado.

Mas, como os nossos ilustres e honrados parlamentares são humoristas renomados, criativos, acharam por bem trocar esse verbo que na realidade fizeram-no de sinônimo.

Trocaram então pelo verbo Internalizar.

Essa idéia deve ter partido de algum corrupto interno, como o próprio nome já diz.

Quando se referem a dinheiro não contabilizado não admitem que é caixa dois, mas sim dinheiro não contabilizado e por isso o mesmo não pode ser internalizado.

E outros vão além. Como é o caso do tesoureiro do PL Jacinto Lamas que por ironia do destino foi vítima do próprio nome e recebeu mais de 10.000.000 do valérioduto e apenas disse que ía se encontrar com a secretária do Valério porque estava cumprindo ordem do presidente do PL, e que na realidade não abria os pacotes chegando ao ponto de dizer que não sabia o que continha no mesmo.

E o maior barato é que eles afirmam com tanta convicção que acabam acreditando em suas mentiras.

Já o tesoureiro do PTB pau mandado do nosso "Tenor Bomba" Roberto Jefferson, afirmou que não distribuiu o dinheiro pago pelo PT-ODUTO, porque o mesmo não era internalizado no partido.

Parece até papo de maluco uma conversa dessas.

O Sr. Delúbio Soares usou o seguinte termo:

"Nós recorremos ao empréstimo. Como os recursos não eram contabilizados, nós não poderíamos Internalizar esses recursos no PT".

A moda pegou. A imprecisão vocabular do ex-tesoureiro tinha uma explicação: a busca - desastrada, à moda do personagem – de eufemismos que lhe diminuíssem a culpa: recursos não contabilizados em vez de caixa 2, internalizar no lugar de escriturar ou contabilizar recursos ilegais.

Bem menos sentido faz a palavra desde que passou a ser repetida por parlamentares nas CPIs, agora sem a desculpa do eufemismo".

Internalizar" é um anglicismo do vocabulário da psicanálise e tem sentido muito preciso: introjetar, adotar inconscientemente idéias alheias como se fossem próprias. Mais ou menos o que os nobres parlamentares estão fazendo com as noções delubianas sobre o léxico.

Não, Internalizar não é, embora possa parecer, apenas uma forma besta de dizer "pôr para dentro". Ou pelo menos não era.

Depois da crise atual – que é política, mas também de sentido – nunca se sabe.

Quem ficará surpreso se amanhã, depois de horas de interrogatório, algum deputado faminto pedir à mesa dez minutos de intervalo para que todos internalizem um lanchinho?

Na realidade essas figuras tinham que ser internalizados em cadeia de segurança máxima.

Tem mais...

Pelo menos desde o século 17, a tradicional expressão "fazer jus" significa merecer ou tornar-se merecedor. Não na linguagem do deputado José Carlos Araújo (PL-BA), que ontem, na CPI do Mensalão, inventou que o dinheiro repassado a parlamentares por Marcos Valério servia para "fazer jus a despesas de campanha". Provavelmente quis dizer "fazer frente". Fez jus ao troféu de imprecisão vocabular do dia.

Mas a criatividade de nossos parlamentares vão muito além, de onde nossa mente humana pode alcançar.

O próximo verbo agora é Indenizar.

Com requintes de esperteza e manhas de viciado corrupto, foi pioneiro com a criação da verba indenizatória, inaugurada pelo desditoso deputado João Paulo Cunha, ora agraciado com a inclusão na lista dos encaminhados pela CPI dos Correios à Comissão de Ética, para a abertura do processo de cassação dos mandatos. Candidato a presidente da Câmara, o petista comprometeu-se com o baixo clero a criar a verba indenizatória, que é, nada mais nada menos, o mensalão legalizado pelo truque semelhante ao do baralho com cinco ases.

O que é a verba indenizatória? Um salário extra disfarçado, com o crédito de R$ 15 mil mensais para que o senadores e os deputados sejam reembolsados, mediante a apresentação de comprovantes das despesas, que o comum dos mortais paga com o que ganha com o seu trabalho.

E como já era de se esperar, internalizaram só DEUS sabe onde, a documentação sobre uma retirada feita no Banco Rural no dia 30 de dezembro de 2003, incluindo cópia do cheque número 413794 – de numeração próxima à de outros cheques comprovadamente destinados ao caixa 2 do PT. Simplesmente desapareceu dos arquivos da CPI dos Correios. E continua sem resposta a indagação sobre quem pagou uma dívida de 29,4 mil reais do presidente Lula com o PT no final de 2003.

Quem foi?

Agora com todo o respeito que tenho por você leitor, permita-me fazer um um desabafo.

"VÃO PRA PUTA QUE O PARIU ESSES CANALHAS!"

Eles são a lei. Fazem o que bem entendem. Verba indenizatória!!!

Só essa que faltava!

E enquanto os fornos são aquecidos nas CPIs para uma bela pizza a "la Delubiana", O salvador da pátria, inocente, Luis Ignacio Lula da Silva viaja pelo país usando uma fraze roubada do Zagalo.

Vocês vão ter que me engulir!!!

Só esquece de complementar, que já esta internalizado a internalização da internalizada corrupção.

Vincent Benedicto
Enviado por Vincent Benedicto em 02/09/2005
Reeditado em 05/10/2005
Código do texto: T46944