EX-MISS BRASIL – PRIVACIDADE E MODERNIDADE.
Causou cerca preocupação entre familiares que a nossa ex-miss Brasil,de 2002, Taísa Thomsen, por não dar notícias do Exterior,onde se encontrava.Essa história é um pouco velha,mas o tema é atual... O fato provocou “frisson”-desespero mesmo- entre familiares,amigos e o assunto ganhou a repercussão na imprensa, rádio, TV, inclusive polícias mundiais.(Interpol-Scotland Yard e federais de plantão). Vários folhetins foram espalhados na Inglaterra e no mundo. Realmente, a vida hoje é bem mais perigosa do que anos atrás. Hoje, o crime organizado arrecada mais dinheiro que muitos paises ricos na produção e exportação regular de produtos. O tráfico de drogas e aliciamento de mulheres, por via de promessas e riscos incalculáveis, onde lá fora a pessoa fragilizada não tem outra saída a não ser aceitar condições desumanas e degradantes.A prostituição é negócio rendoso ao mau caratismo e as máfias mundiais... Até a hipótese de suposta morte cruel não poderia nem deveria ser descartada, pelas autoridades lá e cá, especialmente em caso de vitima quando recusa ou tenta a rebeldia ante um grupo/facção criminosa,com imensos tentáculos. Há numerosos casos nesse sentido, onde aliciadores captam a clientela no país e levam para fora para uma terrível e inominável degradação e depravação,às vezes,ignorada, não consentida pela vitima.Às vezes a vítima até sabe porque vai e consente.Caso no nordeste do país. Por outro até com a concordância da vitima, na ilusão de ganhos fáceis e futura volta , com algum dinheiro.Seria uma espécie de “bolsa exterior”... Oportunidades decentes de trabalho,hoje, são absurdamente restritas e ou inexistentes para a sobrevida no país de origem. O desemprego lá como cá existe.A coisa anda brava e o mundo está mesmo perigoso.O urubu de baixo está atingindo o de cima!!
Finalmente, a mocinha- Taísa- estava na Inglaterra(Londres)... e em contato telefônico a nossa Polícia Federal, com a congênere na Inglaterra, felizmente, ao que parece,informou ela estava bem. Bem, na verdade, não estava eis que se descobriu agora que se encontrava na Inglaterra como clandestina, pois, entrou como turista e o tempo de permanência se esgotou... “Game over”. Voltou ao Brasil, querendo ou não.
Irregularidade de alfândega à parte, o que nos interessa no momento é o lado mais interessante desse fato no aspecto jurídico e logo vem à memória a figura impar do eminente mestre em direito penal,professor-doutor Paulo José da Costa Junior, que há anos, mais precisamente em abril de 70, agraciou-me,casualmente na editora Saraiva ( com dedicatória e tudo) o livro de sua autoria= “O DIREITO DE ESTAR SÓ- tutela penal da intimidade”, vislumbrando o futuro artigo 162 do novo Código Penal brasileiro, na época em elaboração.(depois,abortado). O grande jurisperito era professor de Direito Penal da USP, e lecionava também na Universidade de Roma, onde sempre se destacou. Foi professor também da Universidade Mackenzie, em SAMPA. Tinha a estatura física igual a minha... Ah...esses baixinhos...eles se entendem... e não são fãs de nenhuma artista global...que dizia:-- "gostava" dos baixinhos... (será?).
De notável saber jurídico levantou a tese do direito à privacidade e também por conseqüência, o direito de estar e ficar só. Essa obra foi o trabalho de tese do eminente mestre para se consagrar também professor da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da Universidade de São Paulo, com 114 páginas apenas, mas de intenso conteúdo doutrinário e jurídico, onde cita legislações estrangeiras, ligadas ao tema.Era professor de DIREITO também na ITÁLIA...em ROMA!!! ( é pouco ?)
Visto o caso por esse ângulo – direito de estar só – no entender do eminente professor Taisa Thomsen estava cheia de razão... Assim o que diz o mestre, página 16: “É que a civilização da técnica, identificando o homem com a sua função social, transformando-o em insignificante peça da complexa engrenagem industrial, nele inculca sentimentos de desvalorização. Ele se sente esmagado pelo anonimato, pela diluição de sua individualidade nas grandes concentrações urbanas da era industrial-tecnológica,de sorte que a exposição de sua vida à curiosidade e controle alheios resulta, paradoxalmente, na superação de sua mediocridade: ser espionado é, de algum modo,ser importante.Este sentimento a tal ponto foi difundido e prestigiado pela filosofia tecnológica que,nos tempos vertentes, a vida privada, a solidão, é interpretada como um prazer vicioso, índice de excentricidade,sintoma de marginalização e mediocridade” (La vita quotidiana, Milão,1966, pág.495 e segs). Mais além diz: “O conceito de vida privada, como algo precioso, parece estar sofrendo uma deformação progressiva em muitas camadas da população”, citando Pakard, La società muda, pág. 20.
Recente voei de SAMPA a LONDRES e ao chegar no desembarque uma fiscal, mal amada,vendo que trazia uma prosaica pasta de dentes, disse o “bicho”, para mim,pois,a regra na aviação internacional proíbe a viagem e porte dessa inocente utilidade dentária, doméstica e higiênica,tudo por causa de terroristas, que inventaram colocar nos tubos bombas plásticas que leva todo mundo para outro mundo...,na terra ou no ar. Coisa de louco.Terroristas não escovam os dentes... Como cheguei com passaporte brasileiro,logo em seguida, alguém,no serviço de segurança e espionagem encostou e perguntou se “era cidadão italiano”. Respondi que sim... Ele ouviu e foi embora. Como esse desgraçado sabia dessa minha outra nacionalidade/privacidade???? Nem disse até logo...ou boa viagem,já que,logo,subiria nas asas da Lufthansa para Colônia,na Alemanha!!! Não iria permanecer na terra do “GOD SAVE THE QUEEN”...
Embora o livro “O DIREITO DE ESTAR SÓ” -hoje esteja aparentemente defasado por “n” razões factuais,-não em conteúdo- onde a privacidade está toda aniquilada, o texto é atual ainda merece toda nossa reflexão. Difícil hoje é distinguir o público do privado, basta saber, por exemplo, que ao entrar no elevador de qualquer prédio, em qualquer cidade do país, você poderá/será observado... filmado pela portaria (ou câmeras analógicas ou digitais). Sinal dos tempos. Não bastasse isso, uma simples ficha de entrada num hotel poderá seu nome e qualificação cair na mão de empresa de “telemarketing”. Será um “Deus nos acuda”,depois.Um “inocente” programa de sorteio de loja,onde você oferece seus dados...num “cupom” de sorteio fajuto ou não.Aí,mais tarde, tudo está perdido.Até sua tranqüilidade foi para o brejo. Certamente estamos sendo vendidos- sem saber aos mercadores em geral , nessa modernidade maluca...Essa modernidade,por outro,tem o lado bom,útil,pois consegue identificar malandros e bandidos de carteirinha. Ao se hospedarem em hotéis- ou quando querem fugir para fora do país,impunemente...e, ou também as câmeras flagram infratores de trânsito na contra-mão, acidentes graves,sem prestação de socorro. Quando não a foto de “black blocs”,baderneiros, bandidos “de carteirinha ou não” e singelos trombadinhas da periferia...
George Orson Welles –em sua obra do século XX- já mostrava para que servimos e a quem nos interessa...ao “Big Brother”... ao grande irmão, só que êste é bastardo!!