A responsabilidade de um deus

A responsabilidade de um deus

A você que tem ombros largos me perdoe... Não deves ler esse texto de humanos. Coisas acontecem todos os dias, a idade chega para todos, as plásticas tentam atrapalhar, mas sim, os anos passam e isso é inevitável, com a idade vem também a responsabilidade. Não é algo que você queira herdar, mas ela vem, assim como os cabelos brancos indeléveis. Nossa humanidade, como sempre, tenta de todos os jeitos evitar algum fardo, a fuga da realidade é algo muito apreciado hoje e sempre.

Para aquele que se interessam mais pela leitura, hão de saber que os árcades já faziam isso, nos tempos que o que era rural vinha sendo brutalmente substituído pelo que é urbano, sujo, agitado, aglomerado, era óbvio que fugir na base de textos pastoris era um bom desvirtuador. Sim, a literatura, a que muitos vão clamar enfadonha e desnecessária é um grande remédio a toda carga de realidade que vivemos num mundo que tanto exige dos que pensam... Aliás, se torna tarefa quase impossível se controlar diante de tanta barbárie, desamor, “despoesia”, um mundo que perde seu encantamento todo dia, por isso, temos de fugir.

Focados em mundos com bruxos, mitologias, natureza e união é que os cultos de hoje vivem, pois, diante da balbúrdia eminente não há o que fazer se não uma revolução por dia, e quando o cansaço bate nas almas tão humanas, há de se debruçar diante de uma boa leitura e viajar por universos desejados. O transe pode durar de minutos a horas, até que tomamos um tapa da realidade, da responsabilidade, sim, somos humanos, sim, precisamos comer, sim a comida de hoje em dia é bastante indigesta para aqueles que costumavam engolir uma simples globalização...

E ainda pode se encontrar, raramente, aqueles loucos, bêbados, surreais, que chamo de alienados idônicos, ou seja, aqueles que são capazes de mudar o mundo em alguns verves. Sim, quanta admiração pelos poetas, contistas, cronistas, que tentam gritar ao mundo que parece perder a audição, a praticidade vai dando lugar ao subjetivo e a responsabilidade sempre tem que chegar a porta dos que adoram imaginar.

Não sei se tenho propriedade suficiente para falar de alguém tão ocupado, falar seu nome em vão em linhas que pouco serão lidas, mas ouso fazê-lo pelo propósito simples de tentar ajudar meu Pai. Devemos sim assumir o que temos de mais pesado que são nossas obrigações, e nossas falhas... Porque não falar daquilo que outros evitam, erramos sempre, vivemos sempre, desistimos demais, e onde fica a tal responsabilidade? Entregamos ao mítico, ao sagrado, a Deus... Por chamá-Lo de mítico, alguns podem pensar se sou cético, mas não, acredito sim na religião, aliás prefiro dizer que minha religião é amar, colho tendências de tudo aquilo que me fizer bem, seja oriental ou ocidental. Mas para não fugir da responsabilidade de defender alguém que amo, continuo a apelar para aqueles que querendo se eximir de sua parte dizem fria e proativamente: “Se Deus quiser”.

O peso da expressão é forte, muitas vezes usado quando se fala de ações difíceis de acontecer, o que sim, deve ser pedido ao ser maior, a força motriz de sua existência, mas não, não hei de se eximir de tudo, entregar a Deus não deve significar ócio e proatividade, mas sim pedir ajuda a Aquele que já tem tantas tarefas... Enquanto se pedir a Deus algo que não conduza você, Ele não poderá intervir, e você quando fracassa simplesmente o culpa, ou quando obtém sucesso o ama, contrariando Clarice que diz: “É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é”, provando nossa triste sina de negar a realidade que nos cerca, sim, somos humanos, sim temos responsabilidades, sim são só nossas, não, não desistiremos dessa estranha mania de amar o que não existe.

Gabriel Amorim 16-02-2014