Qual é o preço do fetiche?

Como deve ser do conhecimento das pessoas antenadas, seja na internet ou seja em qualquer outro meio informativo, hoje (apesar de hoje ser dia 16 de fevereiro, o texto fora escrito, inicialmente, no dia 15) foi inaugurada a primeira apple store do Brasil. Como era de se esperar, formou-se uma fila, o que é natural na inauguração de algo grande nessas terras do lado de cá do atlântico. Mas, qual o preço disso tudo? Horas na fila para comprar um aparelho que no exterior seria mais barato, mas tudo bem. Realizar uma viagem pros estrangeiros em cima da hora seria algo praticamente impossível, além de muito caro. Mas ok. A pessoa, o fanboy, vai para a loja da apple, entra na fila e lá gasta horas. Tudo para comprar o tão sonhado produto, pagando um preço abusivo, primeiro, por ser em terras brasileiras, já que as empresas pensam que nós somos desesperados para consumir e assim termos visibilidade social, podendo nos gabar, nos exibir para quem não tem, segundo, porque realmente os produtos da apple são mais caros que os concorrentes, mesmo que não seja tão bom, mas, ora, é um produto da Apple! Eis o fetiche, como explica Marx em sua obra. Vamos pegar dois produtos, "A" e "B", ambos realizam as mesmas tarefas, tem o mesmo potencial, mas o primeiro, tem um custo-benefício maior, já o segundo não, pois é mais caro, seja por meros detalhes estéticos, um design diferente, ou uma assinatura idiota. Além do simples fato de a Apple ser hoje uma das empresas mais valiosas do mundo, então, o preço alto tem de sustentar isso também.

Passado as horas na fila, o consumidor é lesado e nem se dá conta disso, ou se se dá conta, não liga, porque afinal, é um produto da apple que aquela pessoa, com quem ele gosta de competir, não tem. E assim ele estimula o outro a consumir, mesmo que não haja uma condição para tal e isso, futuramente, pode vir a gerar um outro problema que é para um economista explicar, não cabendo um mísero pseudo-escritor tratar sobre esse assunto.

Falemos, pois, sobre o fetiche em cima da Apple. Para isso, falemos da história dela.

Criada nos anos 70 por Steve Jobs, esse ser, que muitos tem por um ser mítico, meio que como uma divindade, e que logo falaremos mais da empreitada dele, pois, o tema tem muito a ver com ele e por Steve Wozniak, o cara que ajudou a fazer o sonho e a tocá-lo e justamente por isso deveria ter mais respeito e consideração pelo seu feito e não tem.

Em 1977 essa dupla lança o Apple II, uma máquina que revolucionou o mercado de informática da época e foi um marco na história dos micro-computadores e computadores pessoais.

Já em 1984 é lançado o macintosh, que evoluiu ao longo dos anos, e é produzido até hoje, com as devidas alterações realizadas ao longo desses 30 anos. Importante ressaltar aqui que foi um computador revolucionário a época, por popularizar a interface gráfica.

Agora falemos de Jobs, para separar a história do mito, o homem do deus.

Jobs foi demitido da Apple nos anos 80. Investiu (guardem bem esse termo, pois ele vai ajudar a definir quem foi Jobs de fato) numa empresa de animação, Pixar, que em 1995, viria a realizar o primeiro filme totalmente animado por computação gráfica, o que foi outra revolução. Quando falei de investidor, de fato, em um vídeo que não recordo o título, mas que fala da história de tal empresa citada há pouco, aparecem três pessoas de suma importância para o estúdio, dois deles não recordo também, mas um deles era o sr. Jobs, e qual foi sua importância? Investiu, empreendeu dinheiro naquela empresa que hoje é um grande negócio da indústria de animação. Ok, uma das principais características da sociedade americana, é a livre iniciativa e o empreendedorismo do seu povo. Mas de fato, se há alguém empreendendo dinheiro em uma coisa que já existia à época, há alguém realizando aquele trabalho. Esse é o ponto que muitos não conseguem enxergar, Jobs tem sua parte na história, mas não realizou as coisas sozinhas. No começo Woz' realizou muito, depois que o negócio foi pra frente, teve uma equipe. Aliás, voltemos a nossa linha temporal, pois muito ainda necessita ser dito e quero que seja dito no correto contexto temporal.

Em 1997 a Apple, passando por grave dificuldade financeira, prestes a quebrar, recontrata Jobs como CEO (o bom filho a casa torna). Aliás, vale citar, 1997 também é o ano do slogan "Think Different", pense diferente em bom português. Tem algum termo melhor para dizer implicitamente "marca do fetichismo"? Acho que não.

Desde 1997 até os dias atuais foram vários sucessos, que serão apenas citados e terão uma pequenas considerações históricas a respeito: iPod (que revolucionou o jeito que ouvimos música, apesar de mp3 já existir à época, vale também citar o iTunes, que revolucionou o jeito como compramos músicas, o que "salvou" a indústria fonográfica de uma quebra ante a pirataria) iPhone (não foi o primeiro celular com touchscreen, mas revolucionou a indústria de celulares, lançando ao mundo os smartphones), o ereader, depois rotulado como tablet, o iPad (não foi o primeiro ereader, mas foi revolucionário por apresentar muitas funções que o kindle, da amazon, não possuía). Há ainda outros produtos, mas esses são os principais, os mais revolucionários.

Em 2011 Steve Jobs, infelizmente, foi vitimado por um câncer que há muito lutava contra. Isso foi motivo suficiente para elevar o status da empresa, valorizando-na bruscamente, seja em termos econômicos e financeiros, seja em termos de reputação ante não apenas os consumidores, mas também ante todos que tem conhecimento de seus produtos. Em virtude de sua triste morte, o homem que ao longo dos anos virou um espantalho, foi homenageado com biografias sobre sua vida e por um filme, que foi fraco pelo que disseram.

Desde então, só melhorias foram realizadas, lançando versões novas de produtos já há muito (já que hoje o tempo parece que tem um novo referencial) estavam no mercado, defasando o que foi comprado ontem, aumentando, por consequência, o consumismo desenfreado de toda a "indústria" que sustenta essa empresa, aumentando a quantidade de lixo eletrônico presente no mundo, poluindo muitos países de terceiro mundo, vitimando toda a "indústria" que trabalha em cima desse lixo, em busca de peças valiosas e que entram em contato com peças maléficas a saúde humana.

Falando um pouco de Steve Jobs, novamente, ele era um grande empreendedor e isso tem de ser lembrado por todos antes de falar sobre ele para que não se caia em lugar comum, para que não se eleve quem não merece. Digo isso pois muitos que trabalharam com o Jobs relataram a dificuldade de lidar com o líder no dia a dia. Claro que ele foi um homem acima da média, com vários feitos que até hoje estão aí para contar a história. Mas não podemos esquecer que foi apenas um homem, que teve ajuda para realizar os seus sonhos visionários e assim o fez e o resto é conhecido, é história. Ele não lançou nada novo, só uniu 1001 coisas numa só.

Steve Jobs não foi o culpado pelo consumismo, este sempre existiu, em escala reduzida e por quem tinha condição, nem pela proliferação desse, podemos citar Henry Ford, que com sua linha de montagem, conseguiu reduzir o preço de produção de um carro, fazendo com que muitos pudessem ter um veículo automóvel, que hoje virou uma ostentação.

Steve Jobs só direcionou o consumismo para seus produtos, talvez não tenha sido o primeiro, mas o fez de maneira muito boa que dura até hoje e vai prosseguir assim até todos se questionarem se vale a pena. Ele maximizou a ideia do fetichismo sobre as coisas.

Realmente há a necessidade de empreendedores no mundo, precisamos realmente de coisas que facilitem e melhorem nossa vida. O problema não está em alguém fazer isso e botar um preço "x" qualquer que pareça abusivo, o problema é o consumidor em potencial comprar a coisa sem se questionar sobre o valor. A priori, ninguém sabe quanto uma novidade custa, mas passado um tempo, o preço deveria baixar naturalmente. Mas em virtude do fetichismo, isso não ocorre.

Só para constar, como qualquer pessoas que valora (mas não dá valor, não se apega) gosto do que é bom. É natural. Reconheço que muitos produtos da Apple são bons. Agora, se há outro produto tão bom quanto, se não melhor, por um preço mais em conta, é evidente que decidiria pelo outro produto.