Véspera de apartação
Véspera de apartação
Essas noites que antecedem separações, essas que não nos trazem sono, não nos deixam concentrar em qualquer atividade, deveriam ser banidas do imaginário humano, especialmente de certos humanos abobalhados como eu. Penso que ficaríamos menos bobos, mas apenas um pouco, se nos fosse retirada cavalheirescamente do limbo do imaginário inconsciente a ideia incontrolável de perda que carregamos, tantos nas perdas mesmo, quanto nas separações às vezes provisórias.
As noites citadas anteriormente parecem banhadas de uma neblina incansável de aroma melancólico, carregadora de uma cor de coisa perdida, como se o que nos pertence não nos pertencesse, embora permanecesse sob a nossa sensação de tutela e, ademais, distante de nosso controle.
Como essas noites, as sensações que as acompanham deixam um gosto amargo de solidão acompanhada, sabe? Aquela que você acredita ser fantasma, mas lhe causa o mesmo estrago da verdadeira. Dessas eu gosto menos, porque a danada é mentirosa; todavia nos remete um sentido de verdade, num paradoxo que não conseguimos desmascarar.
Gostaria que as pessoas não morressem. Ou, pelo menos, que suas partidas fossem menos trágicas. Que pudéssemos assistir suas subidas de alma como se acompanha um balão ao céu.
Gostaria, também, que os bons não nos deixassem, nem para serem mais que bons em outras terras, pelas suas próprias pernas, por suas próprias vidas. Por que razão o separar é um bem? Quem determinou que os que se acolhem mutuamente não o podem para sempre?
Quem inventou saudade? Por favor, pare de suas invenções. Elas não são bem vindas.
Devo estar sendo egoísta, percebo. Mas não admito-o. Nem o admitirei. Nem mais o citarei. Envolvo-me agora num manto de domínio que me faz pensar que as pessoas que nos fazem bem são inseparáveis. Não as permitirei ao longe. Seu lugar é aqui, ao lado, fortalecendo o laço que em nós se amarrou e apertou-se a cada sorriso, a cada raiva… a cada canto, com cada um dos encantos… Mas a força da correnteza do rio da vida é tão forte quanto insondável. Ele não se permite desviar. Ele não perdoa demoras. Ele não tolera o titubear.
Largo-me. Fraquejo.
Mas nem venha pedir-me que não chore. A companheira lágrima já caiu.
Luís Eduardo , 13-12-2013, à 0h16