Que festa?

Que festa?

Festa sem graça! Festa não é, nem de longe, o que o mundo hoje faz ser. Desculpe o termo “faz ser”, mas tem tanta coisa que não é e o mundo de hoje, a maioria das pessoas de hoje fazem ser… sem serem. Coisas sem a menor importância ganham uma relevância fenomenal. Pessoas sem o menor “conteúdo” ganham espaço e tempo ao passo que outro tendo muito a dizer de essencial para a vida, para a sociedade, não recebe a menor oportunidade.

Pense, por exemplo, nos espaços destinados às entrevistas. Tem cada entrevistado que deveria ter ficado no anonimato. Tem cada entrevistador que deveria ter ficado sem programa.

Pensemos, por outro exemplo, nos espaços destinados aos horários de propaganda partidária e de propaganda em época de eleições… Esquece essa parte. Melhor nem pensar nisso.

Mas, pensemos, por exemplo, nos tempos destinados às notícias em toda a mídia, impressa ou não. Lembrou de alguma notícia que tomou um espaço danado e você ficou, ao final, se perguntando o que pensaram os editores ao colocarem aquilo ali? Quando alguma pessoa célebre (que de celebridade não sei quem a nomeou e ela acreditou!) escorrega com seu cão numa calçada e o pobre cãozinho saiu com o rabo entre as pernas. Não entendem os idólatras daquele personagem e os repórteres, colunistas e blogueiros que é papel do cão colocar o rabo ali e isto vira manchete de jornal, revista e telejornal. Já vi tanta gente ser notícia porque ia à praia ou saía de casa para passear. É uma festa. É? É festa um fato simples da vida de alguém. E por que não é festa uma caridade, um ato solidário, um trabalho voluntário para crianças ou idosos?

Estranhamente, parece uma festa quando alguém é honesto numa situação limite.

Pois é. As festas de hoje estão como essas notícias, essas entrevistas, essas pessoas sem conteúdo. As festas se tornaram sem conteúdo, sem importância. Sem pessoas.

Aliás, as pessoas vão às festas para não contactar pessoas, que, a princípio, era o primeiro objetivo de alguém se vestir bem e se perfumar para sair a uma festa. Engraçado como cada vez mais pessoas, adolescentes e não, estão nas festas mas seu “juízo” encontra-se em outro tempo e espaço, digitando e lendo mensagens via celular. Só para lembrar: esse instrumento de comunicação está mais a serviço do isolamento humano.

Valorizam demais o smartphone. Valorizam de menos a boa convivência.

Sabe aquelas coisas inúteis que as pessoas valorizam como as mais indispensáveis da vida? Sabe aquelas atitudes que se espera do outro que são fundamentais para uma boa amizade? Sabe aqueles passos básicos de comportamento humano que não estão registrados porém qualquer humano normal sabe de cor? Um abraço, um afago, um sorriso, um silêncio… Hoje, parece mais importante a "estante" dos elementos desimportantes, como o bem material, o título, o poder, a aparência.

Engraçado como eu acho que eles estão enganados, entretanto parece ao mundo que o equivocado sou eu. Mais engraçado é como parece que as pessoas não percebem isso, e cada vez eu tenho menos gente para discutir tais questões.

Engraçado como a vida tem perdido sua graça. Engraçado como a gente não tem sabido festejar. Engraçado como a vida está ficando sem festa. Engraçado como as pessoas não sabem mais festejar. Festejar coisas e pessoas simples. Festejar o pormenor, o detalhe, o pequeno.

Engraçado, mais que engraçado, é terrível como a vida tem perdido sua vida. E não por culpa da vida. Muito mais por culpa dos seres vivos racionais. Que não sabem ser “seres”. Que não sabem ser vivos de verdade. Que não sabem raciocinar.

Luís Eduardo - Véspera de Natal de 2013, 23h54. Minha mulher atrás de mim.