Solução lucrativa

Há duas semanas eu pensava em um modo econômico de descartar meu fogão velho sem que isso representasse uma agressão ao meio ambiente, até que hoje pela manhã o ruído de um alto-falante despertou em mim a curiosidade. “… latinhas, motor velho, geladeira velha, fogão velho… compramos… ”. Era minha oportunidade de me desfazer do fogão sem peso, nem no bolso nem na consciência, então fiquei atenta à passagem do caminhão barulhento em minha rua.

Quando passou, chamei um dos compradores, ele me ofereceu dois reais pelo fogão, eu aceitei um tanto decepcionada, pois embora fosse um eletrodoméstico muito velho e feio, ainda funcionava direitinho. Enquanto os dois rapazes subiam ao caminhão e abriam espaço para o trambolho, fiquei olhando a cena por um instante, até que me “caiu a ficha”: como eu poderia receber um centavo que fosse de dois rapazes que acordam cedo em pleno sábado, para fazer o incômodo trabalho de limpar nossas casas das velharias que acumulamos, e ainda nos pagam pelo que levam embora?

É verdade que lucram com essa prestação de serviço, pois vendem tudo para o ferro-velho, mas quem deveria recolher e dar o destino certo aos produtos fora uso deveria ser o fabricante. Se há leis nesse sentido, nunca ouvi dizer que foram cumpridas. Se não há, também não tenho conhecimento de que o legislativo tenha algum interesse em criá-las. Afinal, juntos e misturados, os poderes econômico e político se beneficiam mutuamente, deixando para o povo a difícil tarefa de, sozinho, encontrar soluções para muitos dos seus – deles e nossos - problemas.

Ofereci aos rapazes mais alguns descartes de metal, recusei o pagamento e agradeci pelo enorme favor que estavam prestando a mim e a todos que já haviam entregado a eles suas inutilidades. E todos saímos lucrando.