REVI MINHA PRIMEIRA NAMORADA...APÓS 70 ANOS.
 
Quando  começaria o antigo “ginásio” na minha querida terra natal e residia com a família no prédio dos Correios,num sobrado, arte “decô”,onde em cima era moradia e,embaixo,repartição pública,pois, meu falecido pai,era gerente do Departamento dos Correios e Telégrafos,onde permaneceu por 15 anos seguidos,nesse posto, na rua tenente Lopes,centro, no início da década de 60,eu sonhava dia e noite com uma mocinha que residia na rua Quintino ..... Na rua tenente Lopes desciam uns poucos veículos...importados de gente rica e doutores de  profissões liberais,outrora importantes...  Na rua Quintino, rua paralela à minha, a subida era  obrigatória...aos poucos motoristas... .Acho que até hoje nada foi mudado,quanto ao movimento de veículos. As ruas estão lá,alguma  coisa mudou, e só permanecem mesmo as minhas eternas lembranças...
Lembranças do tempo de uma inocência que se perdeu,quando toda a família mudou-se para SAMPA,pois naquela época não havia curso superior,para ser doutor,na querida terra natal. SAMPA foi a cidade que devo tudo em conhecimento,estudo,luta,honestidade,dignidade,sobrevivênc-ia,civismo,brasilidade,  até mesmo esperteza e sacanagem ...  SAMPA tinha e tem de tudo,sempre,de uma só vez ou a conta-gotas... Até tem trabalho para quem quer trabalhar... Oh...cidade mãe, também,às vezes, madrasta...SAMPA não exige documentos de procedência,latitude ou longitude...nem quer saber em que bairro você mora. Ela pode  ser até indiferente, mas não preconceituosa. Em SAMPA sempre cabe mais um...igual coração de mãe.A cidade que não dorme e é uma máquina centrípeda,não centrífuga.Assim,ela atrai e não expulsa... Só sai dela quem quiser.
Fiquei então,por algum tempo!-
Como dizia:- a mocinha-primeira namoradinha- ficou também na cidade natal. quando  mudei- obrigatòriamente- para SAMPA,onde tudo aconteceu e o tempo passou...Aprendi muito com a velhusca SAMPA, que hoje não me pertence...
Assim...voltando na terra natal:
Esperava minha primeira namorada da rua Quintino,onde ela morava com os pais, preso a um poste,nos domingos, a sua espera para ir ao cine Jahu- hoje não existe mais- e lá,no escurinho,o ato mais ousado era pegar em suas mãos delicadas e suaves como veludo. Seus olhos eram verdes,tão verdes como a folha tenra do pé de café produzido- com orgulho- na minha terra...Os seus olhos  brilhavam como o amanhecer e era encantador. Juventude de sonhos e de esperanças,onde o entusiasmo era muito mais meu... Ela,mostrava alguma indiferença- uma certa distância- diante de tanto emoção e cortejo de nossa parte... Paciência!
Os filmes de matinê eram sempre de “cow-boys” – com poeira e tiros por todo o tempo e lado.... ..Quando saímos até achávamos que se estava em meio a essa guerra de mocinhos e bandidos...entre poeiras e tiros. A gente procurava algum lugar na roupa para se saber se havia ou não poeira ou tiros inimagináveis... Os matinês eram sempre aos domingos,os dias mais felizes de minha juventude,quando me encontrava com a minha namoradinha... de olhos verdes como a esperança.Era feliz e não sabia. Cheguei um dia- na propriedade de um seu parente – escrever seu nome numa inocente árvore e,depois, veio uma advertência/esculhambação dos infernos... O amor também é irresponsável!!O verbo amar  seria  intransitivo?  Mas eu era intransigente...e não complacente! Ao segurar  suas mãos, as minhas suavam,molhavam,mesmo no inverno.Naquela época não existia o verbo “ficar”...  Hoje,liberou mas banalizou geral... Quem ganha e quem perde??
Para conseguir ir ao cine tinha que implorar ao velho pai que retirava da algibeira ou do bolso ,algumas moedas contadas,rigorosamente,em cruzeiros, para esse inocente e único lazer...Difícil- quase impossível – o velho pai por a mão no bolso para essas extravagâncias juvenis, as quais,para mim, era a felicidade eterna no céu e na terra.
Onde os anjos todos dizem: “Amém”.
Assumidamente,meu falecido pai era um “pão duro”- que Deus o tenha.Isso também não é crime. Justifica-se que rico ele não era...mas também caixão fúnebre não tem gaveta!! Nada se leva deste planeta que o astronauta russo soviético Gagárin, emocionado disse, a todos: “A terra é azul”.  Gagárin era um poeta!!! Viagens espaciais eram lazer...a Gagarin!!
Bastou eu deixar a terra natal,morar em SAMPA, e outro mais felizardo conseguiu – com audácia/sorte/facilidade/habilidade- conquistar a minha primeira namorada e ambos se casaram.Já morava em SAMPA.Foram felizes. Tiveram cinco filhos, sendo dos cinco, uma filha. Todos casados, menos a filha, que ainda é solteira juramentada. Hoje é uma respeitável avó,também.Amada e querida de todos da família... Amém, “nóis” tudo.
Como o primeiro amor... sempre é o primeiro amor –ao voltar na terra natal consegui encontrar o principal elo perdido da minha juventude- a moça de olhos verdes...a primeira namorada...Cheguei e lembrou de mim. Recebeu-me com alegria/sorriso/  educação/, emoção/os mesmos olhos verdes brilhantes...de sempre. O marido já falecera há anos.Está permanentemente rodeada de filhos e netos...
Já passamos de certa idade...não há cine Jahu... nem se vê mais filmes de mocinho e bandido,nem no estilo italiano, ela não mora mais na rua Quintino,embora o poste continue impassível e indiferente,no mesmo lugar...eu  não resido na terra natal,nem na rua tenente Lopes...no prédio dos  Correios, pois a  “modernidade” –por uma liminar judicial de fim de semana – derruiu uma arte “decô”.Edificaram um monstro.O rio barrento continua no seu leito,mas não se pega peixes como antigamente...
Uma coisa é certa: -a primeira namorada- continua a residir na rua dr. Esperança, sem dúvida, a visitarei,  até que a morte nos separe...Os seus olhos verdes encantam a paisagem para onde ela olha.O retorno foi melhor que a ida. Até breve- minha ex-futura-namorada.Após os 70 anos ...