Noite de Natal

Podia ser um Natal como todos os outros, ou até mesmo como o mais simples de todos, já teria valido a pena viver um ano mais. Já seria bom o suficiente para sorrir por todos os dias de angústia, pelas decepções, pela saudade, pelas tristezas, pelos medos e incompreensões. Não esperava pouco, eu esperava o essencial.

Mas aquele dia 24, não parecia com os outros, eu já não era a mesma e eles também haviam mudado. Percebi alguns rostos novos, e logo senti por aquelas pessoas um verdadeiro desejo de conhecê-los, ver o quanto podiam acrescentar não só naquele Natal, mas na minha vida.

Continuei a observar, surpresa com as novidades que a vida me reservara. Uns cantavam, outros falavam alto, conversas se cruzavam em uma bagunça sem fim. De repente uma criança passa gritando. Pronto, machucou-se! A mãe corre, pega no colo, cuida, faz um carinho e tudo fica bem, segue o baile. Segue a noite, segue a vida.

Aquela cena foi o suficiente para que eu começasse a refletir, aquele gesto da mãe, faziam-me pensar em uma metáfora da minha vida. Em um tempo de desafios impostos por mim mesma, eu era como aquela criança que tentava superar seus limites, calculou mal, na verdade não conhecia ou sequer se importava com o perigo. E a consequência? Nós nos machucamos, saímos feridas daquela batalha onde éramos nossas próprias oponentes.

Mas, todo aquele desespero expresso em gritos, ultrapassava a dor física era uma espécie de decepção por não ter conseguido, a criança não ouvira os conselhos de sua mãe, e eu? Eu não escutava nada, nem a voz da minha consciência.

Ah,mas naquele momento em que as lágrimas molhavam seu rosto e escorriam lavando a alma, a mãe era a melhor coisa do mundo! Estar onde se sentia segura, onde tudo havia começado. Alí, tínhamos certeza de que alguém secaria nossas lágrimas e nos enxeria de coragem. A mãe dizia: “eu te avisei”, mas seus olhos diziam: “eu te amo” e aquele abraço soava como uma certeza de que ela sempre estaria ao seu lado.

Eles estavam comigo, isso era o que importava, já nem ouvia mais as suas palavras, queria ler seus olhares e sentir seus gestos. Estes eram sinceros, e por isso, ricos, cheios de sentimento e permitiam a minha interpretação. Logo voltamos para casa, já era tarde eu queria dormir, descansar daquela noite e de outras noites mal dormidas daquele ano difícil.