Vou fazer uma rede de caçar esperança.
A esperança é um bicho voador. Ela é verde, pequena, frágil e costuma ser uma diversão pros gatos.
A esperança é tudo que não tenho, neste momento, onde penso minha casa, penso o Brasil, penso todas as coisas que deveriam ser e não são.
No Banco do Brasil, um simpático gordinho funcionário da casa tenta me explicar por A mais B que o sistema de juros sobre juros é justo e equânime, pois "sem isso as instituições não teriam lucros"...ele estava falando dos lucros abusivos, do que sustenta Bolsonaros, Dilmas, Genoínos...pessoas que existem, mas a gente não sabe bem para que servem.
Dai que eu sai do Banco do Brasil com o coração encascado de raiva e ressentimento, além dos juros abusivos, ainda há mais os mais que me incomodam! Esperança é bicho fujão...como diacho ter esperança num mundo onde a razão é substituída por rojão? E que o ladrão apanha, não da polícia que já tem costume de bater desde que apanhar era coisa pra safado (e ganha pra isso) - ninguém me venha com essa conversa fraca de "direitos humanos", tem direito quem trabalha e cuida de sua vida...ladrão, maconheiro e gente safada, pobre ou rica, tem mais é que entrar no cipó-camarão, que é pra doer e tomar tenência - mas, numa estranha inversão de papéis, tem que ser apanhado e batido pelo pai de família que já teria mais é que exemplar os filhos, em casa, pra não dar tudo em safado.
O mundo anda cheio de marmota, cheio de engonços. Quisera eu ter uma rede de apanhar esperança, uma jaula forte pra guardar a sujeita, que é esperta e ladina e fujona que só a peste!
Fico me agarrando na sujeita, para ver se tenho a possibilidade e mantê-la junto de mim.
Onde está a razão que diz que o pai de família tem que ter emprego para sobreviver, que tem que adquirir bens duráveis para dar dignidade à casa onde sua família mora; que este pai de família tem direito de voltar para a casa em paz, num transporte público decente; que se adoecer tem direito a ser consultado - não por médicos cubanos, pelo amor de Deus - e comprar remédio com preço razoável; que tem direito a levar seus caraminguás suados para casa sem ser assaltado e morto; que seus filhos não serão mortos no portão de casa por causa de um celular, que hoje é novo e amanhã é velho.
(o T-Rex - o dinossauro que mora na minha cabeça - acorda amuado. Ele quer saber que diabo de conversa é essa e ameaça voltar a dormir.
- sei lá, Rex, tô divagando! - digo delicadamente, a última vez que esse dinossauro metido dormiu eu fiquei seis meses sem escrever merda nenhuma)
Acho que estou perdendo a inspiração, além da esperança. É difícil viver neste mundo, que dirá escrever sobre as coisas do mundo.
Tanta coisa errada, tanta gente ruim, tanto abismo! Tanta gente intrometida, tantas opiniões vazias, tanta futilidade, tanta dor.
Vou fazer uma rede de caçar esperança, feita de fios tirados do amor, dos amigos, da sinceridade de um sorriso, da voz de uma criança que canta, dos olhos molhados de uma mãe que ama, desse céu azul e impassível, sob o qual estamos todos condenados a viver e aprender.
(T-rex senta contente no meu ombro, olha pro meu texto e sorri...ele está satisfeito, esse dinossauro fresco e inglês. É, parece que eu voltei a escrever).