SAUDADES DE DIVA

Quinta feira, 3 horas da tarde. Horário de visita. No leito do hospital ela arruma os cabelos, se ajeita na cama e espera que chegue alguém para conversar...

Ela havia dormido pouco na noite anterior, o cansaço de seu corpo estava refletido em seu rosto. Ouviu som de vozes vindo do corredor. Esperou quietinha em seu leito quando então ouviu sua filha falando com alguém, emudeceu e procurou descobrir quem era outra pessoa com quem sua filha falava:

-Minha mãe não sabe, mas ela está “nas últimas”, o coração dela está fraquinho, quando dão remédio para controlar a diabete, a pressão arterial dela baixa, e o coração dela está pulsando devagarinho.

-Nossa!Coitada. Ela nem parece que está doente, está forte, bonita.

-O médico avisou que ela precisava cuidar da saúde e ela não se cuidou!Ela precisava passar por uma cirurgia no coração, mas ela tem medo e ficou adiando... Adiando... Aí agora não sei se ainda dá tempo.

As duas mulheres: sua filha e sua irmã empurram a porta e entram. Ela sequer tem tempo de enxugar as lágrimas de tristeza que deslizam por seu rosto bonito e triste. Elas não falam nada – não era necessário- talvez fosse até doer um pouco mais. Sentam a seu lado na cama e conversam sobre banalidades e depois de alguns minutos saem e vão embora. Não perceberam que suas palavras mataram a ultima esperança que restava aquela mulher. No sábado de manhã o coração de Diva parou de bater.

Hoje, depois de mais de três anos, lembro-me das manhãs de domingo quando eu e meus filhos íamos visitá-la: era tanta alegria e tanta festa que só mesmo quem fez parte da vida dela sabe avaliar a falta que ela faz.A saudade do macarrão...do sorvete, do olhar para trás e vê-la na janela acenando....

Wal Ispala
Enviado por Wal Ispala em 15/02/2014
Reeditado em 13/08/2014
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