Usinas Já!

Não tenho muito conhecimento científico dos procedimentos técnicos e respectivas consequências provenientes da construção de hidrelétrica

num rio considerado "em transformação", como atestam os estudiosos no assunto. Aprendi, ainda no ginasial que o Rio Madeira, no caso, possui um volume de água considerável a classificá-lo como o segundo maior da região norte.

Possuía uma cachoeira, a de Teotônio, uma beleza fora do comum, era uma espécie de cartão postal para a cidade de Porto Velho, embora com pouca divulgação, comparada a do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, mesmo em dimensões diferentes.

Conheço gente que nasceu na cidade e nunca se oportunizou a conhecer a saudosa cachoeira. Pena! Porto Velho perdeu uma referência natural, senão a maior. Os mecanismos competentes exigiram, como pré-requisitos para a construção das usinas do Jirau e Santo Antônio, (salvo engano) audiências, que aconteceram sob o ângulo de poucos holofotes - não conheço as razões. Mas conheço pessoas rondonienses mesmo! Que colavam adesivos incentivando a construção: " Usinas Já!" Esta era a palavra de ordem do momento.

Não conseguiria explicar, se todos os defensores da construção dessas usinas no Rio Madeira tinham consciência do impacto natural e social que as populações animal e humana teriam que enfrentar. Mas já começamos a sofrer algumas delas.

A extinção da cachoeira, as enchentes sem controle, o povo desabrigado, os-antes-ribeirinhos à deriva na reviravolta dos hábitos culturais perdidos, precocidade em gravidez de adolescentes, violência e mais violência, até desemprego pós-usinas, e tantas.

Lembro com muita tristeza de um pescador, velho, ribeirinho da margem esquerda do rio, seu Nivaldo, atravessava o rio de canoa de madeira e procura essas tais audiências, numa delas eu o encontrei: - vou defender meu direito! Dizia ele. Sozinho, tipo aquele ditado "uma andorinha não faz verão".

Ele, seu NINI, como era conhecido, se vivo, deveria agradecer sobretudo àqueles que apoiavam essas consequências. Salve a essas pessoas, que pouco devem estar chorando vendo um irmão da família porto-velhense com seus filhos sem terem onde dormir, não fosse a caridade dos iguais socialmente.

É essa a consequência do progresso.

Gecildamaria
Enviado por Gecildamaria em 14/02/2014
Reeditado em 20/02/2014
Código do texto: T4691601
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