A chegada

Cheguei “em” casa. Tudo no lugar. Pelo menos nos lugares em que deixei: no chão, em cima do sofá, sobre o balcão da cozinha, espalhado na cama... É uma sensação de alívio somente reconhecida na intimidade das solidões de quem chega. Esse momento é um tanto injustiçado jamais tendo sido alçado ao patamar da felicidade, no máximo, dos alívios que, convenhamos, acompanha outros momentos menos sociais. Insisto na homenagem a esses momentos porque eles são a afirmação mais clara de que se tem um lar, um abrigo, um lugar para soltarmos o corpo e, pelo menos durante algum tempo, não pensarmos em nada que não queiramos. Finalmente não há chefe, tarefa determinada por outros... O trânsito, a chuva, o medo de ladrão (pelo menos os da rua) ficaram para trás. O sofá nunca foi tão fofo convidando a um primeiro momento de completo relaxamento. Mas, o instante da chegada! Esse só se compara ao fim das preliminares. Isso não significa que os lugares por onde se andou tenham sido cansativos ou estressantes, muitas vezes foram divertidos (leia-se “balada”) ou estimulantes. É o velho descanso do guerreiro que ele anuncia ao se abrir a porta da casa; é o fim de uma etapa, a retomada da relação com quem se divide o teto ou consigo mesmo; é onde ficaram os planos, os panos, os carinhos, as paisagens que nos esforçamos para que sejam a nossa cara. É ir para dentro de quem nos recebe calma e passivamente, cuja chave desse espaço está em nossas mãos.