A noite em que Oiram chorou
A noite em que Oiram chorou
Oiram caminhava sozinho pela noite, nos ombros carregava o peso da obscuridade e toda angústia que as sombras da noite proporcionam. Sentou-se no chão e verteu lágrimas; um rio desaguava de seus olhos. Onde as lágrimas caíram e encharcaram a terra, nunca mais uma planta nasceu. Oiram chorou copiosamente.
Olhou para o abismo dele mesmo, o precipício de sua existência e gritou na escuridão vazia.
- Choro pela vida! Choro pelo mundo! Choro por mim!
Oiram chorava por ele mesmo; pelas angústias que era obrigado a sorver do mundo.
Suas lágrimas ensoparam a terra e, de repente, apareceu o seu acalentador.
Era o próprio Silêncio falando com Oiram:
- Não chore, Víbora! O mundo chora, em maré cheia, pela humanidade. Os mares, nada mais são, que as lágrimas do mundo.
Oiram, no início, assustou-se. Procurava pela voz que lhe falava:
- Quem é você? Apareça!
O Silêncio, imediatamente, respondeu:
- Sou todas as suas vozes em um eco acalentador. Eu ouvi seu clamor, Oiram, por isso, estou aqui. Não tema!
Oiram percebeu que a voz era o seu próprio tormento falando e respondeu:
- Eu vejo, eu ouço, eu falo! Onde estão os sequazes, agora? Ah, filhos desgarrados e fracos, vocês buscam o caminho mais fácil; o percurso da serventia; a estrada do covarde; o fim do apedeuta. Eis que choro por mim, não por eles. São fracos, são mais espirito que carne. A carne sempre está pronta; o espirito que é covarde.
O Silêncio respondeu:
- Não desligue a lanterna. Essa pequena luz é só o que eles têm.
Oiram gritou desesperadamente:
- Afastem de mim os fracos, os tolos e tudo que vilipendia a vida. Sou eu a Víbora Notívaga, o filho da noite. Não sou, não estou.... eu vouuuuuuuuuuuu!
Oiram, depois desse grito, abaixou a cabeça e chorou. Um líquido verde saiu de sua boca (SPLEEN). A angústia era tanta que ele regurgitou a própria dor.
O Silêncio se aquietou e um vento forte soprou na noite escura e sombria. Oiram levantou, enxugou suas lágrimas e desapareceu na ventania.
Oiram