REMORSO

Não adianta rogar, pedir para que ele não se levante sozinho, para que evite quedas, mais quedas, quedas brutais. Tudo é feito para que ele não caia. Mas ele faz de tudo para cair.

Não adianta dizer ao pai: somos humanos também, cada queda sua é uma semana de tortura, de sobressalto. Não dá para esperar dois minutos? Vou ao banheiro. Não dá. Virou as costas... E cai.

O esgotamento de tantos anos já não consegue distinguir o que os médicos, também eles, não conseguem distinguir: onde termina a demência, onde começa a teimosia.

A paciência, por esgotada, perde o prumo, dispara impropérios. E vai dormir cheia de culpa.

Orlando Silveira
Enviado por Orlando Silveira em 14/02/2014
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