NÃO SE PODE PERDER TEMPO
Em agosto de 1985, na região central do Japão, 524 pessoas estavam a bordo do Boeing 747 da Japan Air Lines (JAL) quando o comandante Masami Takahama determinou que todos afivelassem o cinto de segurança e colocassem as máscaras de oxigênio, que foram de imediato liberadas. Durante 32 minutos aquele homem, mantendo uma postura corajosa e esperançosa até os últimos segundos, auxiliado pelo primeiro oficial Yutaka Sasaki e o engenheiro de voo Hiroshi Fukuda, tentou evitar a queda do Jumbo que fazia o voo 123 entre Tóquio e Osaka. Infelizmente não foi possível evitar o pior. A aeronave se espatifou no monte Osutaka matando 520 pessoas e aquele acidente entrou para a história como o mais grave de todos os tempos envolvendo um único avião.
A morte acariciou aquelas almas por mais de meia hora. A última batalha pela vida foi uma eternidade compreendida em minutos, e todos a bordo de uma aeronave absolutamente sem controle tiveram tempo de pensar, de chorar, de rezar e escrever. Conta-se que mais de trinta cartas de despedida foram escritas durante aqueles intermináveis 32 minutos. Dói o coração pensar nos familiares que receberam aquelas mensagens escritas no limite entre as existências. Um dos passageiros escreveu: “A meus três filhos: tomem conta de sua mãe. O avião está caindo e vem uma fumaça branca da parte de trás. Podemos ter apenas mais cinco minutos. Não há esperança. Foi uma vida feliz para mim. Deus nos ajude. Adeus”.
Quase três décadas se passaram e outras tragédias continuam entrando para a história. A mídia nos conta histórias de dor e terror que vão se sucedendo, umas apagando as lembranças de outras, pelo menos para quem está de fora, numa sequência de perdas inestimáveis para as famílias, para a sociedade e para a humanidade.
Todos souberam do acontecimento macabro ocorrido na manhã de 27 de janeiro passado, no km 12 da BR-110, na Bahia, que deixou um saldo de pelo menos 14 (quatorze) mortos, além de vários feridos. Uma retroescavadeira se desprendeu da carreta que a transportava e caiu, atingido um ônibus que vinha em sentido contrário.
Na Linha Amarela, uma das mais importantes vias expressas do Rio, um caminhão com a caçamba levantada derrubou uma passarela que veio a esmagar dois carros, matando na hora quatro pessoas e deixando feridos em estado grave. O acidente foi gravado pelas câmeras de trânsito da via para aumentar o sofrimento dos que perderam seus entes queridos.
Também foi notícia o número de pessoas que faleceram em acidentes de trânsito em Minas Gerais, nas estradas e nas cidades, durante o ano de 2013: Foram 3.184 mortes. Isso mesmo! Três mil cento e oitenta e quatro, segundo a matéria veiculada em 19 de janeiro do corrente. Acredito que foram mais.
A morte é a morte, e pronto! Muitos pensam assim... Contudo, os que morreram na queda do avião da Japan Air Lines em 1985 tiveram mais de meia hora para pensar, chorar, rezar e escrever. Circunstância intrigante dificilmente verificada nos acidentes que diariamente ceifam vidas em nossas estradas. Nos exemplos que citei, os que perderam a vida sequer chegaram a perceber que algo de errado estava acontecendo, ou por acontecer.
As religiões e crenças trabalham com seus fiéis, seguidores ou simpatizantes, na aceitação da condição de fragilidade do ser humano. O nascimento e a morte, para a maioria delas, vão além dos dois extremos de uma caminhada incerta. Incansavelmente tentam responder aos questionamentos mais complexos, oferecendo as respostas mais simples, sustentadas na fé e no temor a um ser superior, criador de todas as coisas.
Sabendo ou não do maior ou menor espaço de tempo entre esses dois fenômenos, inafastável em todos nós é a consciência do fim. As conjecturas pungentes sobre o que há por traz dessa misteriosa cortina nos obrigam a agarrar a esperança da imortalidade da alma, e seguir com ela, de mãos dadas, rumo ao infinito.
Cada um tem a sua visão sobre o apagar das luzes da existência, ou o acender de uma nova vida além da matéria. Contudo, é unânime a conclusão de que, enquanto se está com os pés sobre a terra, não se pode perder o tempo que se tem para viver.