Sim, eu sou retrô!
Não sei porque as coisas antigas me agradam, as vezes penso que não sou daqui ou que deverias ter nascido em outra época, talvez umas seis ou oito décadas atrás.
Hoje me desliguei de todos, quero paz e sossego. Quis chamar atenção dele? Talvez. Mas principalmente, quis chamar a minha. Precisava me reencontrar, achar algo que se havia perdido em mim, certos gostos, comportamentos. Não por culpa do meu novo amor, mas por causa de alguém que roubou a minha identidade no passado, tirou de mim quem eu era.
Hoje acordei tarde e sai em direção ao centro da cidade. No caminho vi pessoas que não queria ver e me entreguei muito mais aquele momento que era só meu, que um dia quero dividir com alguém muito especial para mim.
Chegando lá, procurei minha lojas favoritas. (Desculpa, se você pensou em lojas de grife ou roupas e acessórios caros) Não sou mulherzinha, fútil, volúvel ou sem cultura. Minha arma de sedução vem do cérebro. O físico fica como segunda opção.
Entrei na "Galeria do Rock" é uma junção de várias lojas voltadas para quem gosta desse ritmo, não existem só coisas punk's lá existem também muitos acessórios antigos que me chamam muito a atenção.
Saio de lá, e vou para outra galeria a "Pedro Jorge". Lá existem muitas lojas religiosas, mas uma me interessa mais. É o sebo incrivelmente rústico que também tem muitos vinis. Ah! me sinto tão bem, é como se uma criança estivesse numa sorveteria super colorida.
Encontro raridades, me encanto, me apaixono, peço ao vendedor para colocar um para eu ouvir. Quando escuto o som, aquele arranhar da agulha que me lembra a minha pequena "vitrola" outrora presenteada a mim pelo meu lindo amor. Decido compra-lo. É um valor mínimo eu sei pra tamanha raridade e grandiosidade musical.
Saio da loja feliz, e melhor. Esqueço um pouco aquela medonha saudade que maltrata esse meu cansado coração. É a vida não foi fácil para o mesmo.
Dou uma volta naquela praça que não gosto. Não é preconceito! Apenas, não suporto pessoas vendendo o seu corpo, ou mulheres falsárias querendo ler minha mão, eu nem escrevi nada nelas! Risos.
Entro naquele magnífico teatro, todavia desprezado por muitos nessa cidade, cujo nome é de um grande escritor que admiro muito, José de Alencar. Caminho pelo descuidado jardim, entro pela platéia, acaricio as cadeiras e me sento.
Alguém está ensaiando no palco. Seria uma peça ou um musical? Suspiro. Sorrio. Levanto-me e subo até a parte de cima do teatro onde existe escondido entre cortinas brancas como nuvens e marrons como caramelo um estupendo piano de cauda branco. A sala é encantadora, simplesmente divina, poltronas acolchoadas e braços banhados a ouro.
Acho que ali é onde os maiorais que controlam nosso sistema se divertem. Tenho que admitir, ótimo gosto musical. Mas protesto, outras pessoas deveriam ter também acesso à belos prazeres assim tão musicais.
Então desço, saio do teatro e volto para minha humilde casa, de volta a vidinha. É a dura vida real. Há uma grande vazio aqui dentro de mim, já passou da hora do almoço mas não tenho fome. O vazio é na alma. É... saudade da metade que me completa.