1 - A FORÇA DE UM BUGIO - OUTROS TEMPOS
Vila Canto, talvez ninguém saiba onde fica, não importa eu sei. Na dimensão da minha vista de 1960 um beco longo, o limite da minha liberdade. Eu sabia que não podia ultrapassá-lo, lá depois do final havia tarados e principalmente o Bugio.
Tarados somente fui conhecer depois de policial, mas o Bugio não tardou, num final da manhã de um de domingo lá pelas onze horas meu pai foi na tendinha comprar alguma coisa e eu empinei o peito e fui junto. Entre um martelinho e outro eu pedia para voltar , mas ele já meio atordoado pelos martelos e a prosa nem ligava, então decidi a minha primeira investida no mundo proibido, o mundo além do Beco da Vila Canto. Atravessei a curva da morte correndo, sim a curva da morte, esta muitos conhecem fica em Belém Novo, na direção do Lamí. Na primeira aventura já corri um risco enorme, mas nem imaginava o risco seguinte. Terminada a travessia dei de cara com o Bugio ele me olhou e pergunto o que eu estava fazendo sozinho na rua. Era ele não tinha como errar, era ele. Corri o quanto pude, passei por debaixo da cerca do vizinho atalhando até chegar em casa. De longe o Bugio me seguiu batendo palmas no portão, num breve aviso contou para minha mãe a travessura que eu havia cometido.
Bugio era um homem raquítico que trabalhava na coleta do lixo, quase sempre com roupas de um defunto maior, amarradas na cintura por uma corda fina, pele cor de chocolate, cabelos carapinha num tom puxando para cobre, provavelmente dai tenha surgido o apelido de Bugio. Perdi o medo pelo Bugio, mas não pelo mundo. Hoje não há mais Bugios para protegerem e imporem limites aos nossos filhos.
Talvez hoje o Bugio fosse abatido como num jogo de videogame.
Do Livro a Força de Cada um - Ano 2013 e 2014