O COMEÇO DE UMA VIDA ADULTA.
"Viva com esperança, exale esperança, pense em esperança. Verás que é a flor que, enquanto as outras murcham, ela permanece viva, mesmo que deixemos de regá-la” (Raí).
*********************************************************************
Final de semana chegando e uma tarefa a cumprir: levar para longe do meu abraço um dos meus amores. Os filhos crescem e nós não percebemos, pelo contrário, sempre os achamos nossas crianças e, o impacto que nos causa - quando eles se vão - é como se fosse o da incredulidade, do espanto e do temor.
Noite de sexta a ansiedade tomou conta de mim, pensamentos trilhavam os caminhos das interrogações e o sono não chegava - mesmo que eu visse a figura mágica de uma bela garota sorrindo com um olhar carinhoso e cheio de amor para dar – para aliviar um pouco da minha inquietação.
A Bíblia nos diz que criamos nossos filhos para o mundo, portanto, eles não nos pertencem. Difícil admitir isso. Mas sabemos também que essa separação um dia irá acontecer. Malas, livros, sonhos. Tudo dentro de um porta-malas de um carro.
Viagem iniciada em plena madrugada rumo a capital da Paraíba. O escuro da noite, clareada apenas pelos faróis dos que iam e dos que vinham, eram reflexos de cenas passadas na mente de quem estava relembrando o filme daquela vida.
Criança, não me deixava sair para trabalhar. Era escondido que me ausentava de sua presença e do colo que ela tanto gostava. Adolescente, não se importava mais, nem chorava a minha ausência. Tinha com que se preocupar, seu mundo era distinto do meu. Adulta, seus primeiros sonhos estavam se concretizando. Um deles, o de se formar, ser jornalista e apresentadora de telejornais. O outro o de morar sozinha, cortando os laços umbilicais ainda resistentes à idade.
Dia chegando, o sol despontando forte na curva do horizonte, como a celebrar um final de semana inédito para essa família. No rádio do veículo, Marco Antônio e suas belas canções religiosas. Um grande evangelizador. Olho pelo retrovisor e vislumbro o olhar da cria que parece estar perdido em algum ponto. Talvez estivesse calculando o peso daquela decisão.
Não sei, não perguntei.
Os canaviais surgem à margem da estrada e dão a dimensão de quão grande é o percurso de uma batalha e quão grande é o caminho a percorrer para se vencer na vida.
Felizmente para todos, pensei.
Chegada, finalmente. Cidade grande, arborizada, cheia de condomínios, estudantes de todos os lugares e uma universidade imensa para abrigá-los. O apartamento - no alto de quatro andares - pequeno, mas aconchegante. Dois inquilinos: Sámia e Natália. Simples e comunicativas.
Gostei. Foram dois dias de muito trabalho, como o montar de móveis, por quadros, armadores, consoles, consertar pias e ajudar na limpeza do mesmo. Uma parada para ir visitar uma irmã, até então a acolhedora e tutora da filha amada. Conversa amena, muitas vezes de saudosismo e de passagens de outrora, entremeada por gargalhadas, ao relembrar fatos pitorescos das nossas histórias, lá onde os canaviais ainda não puderam chegar. Na saída, a despedida e o agradecimento aos donos da casa, por tomar conta do ente querido.
Confesso que sou emotivo e não gosto muito de despedidas, apesar de saber que elas são obrigatórias e fazem parte do nosso cotidiano, porém, o que nos resta como consolo é: para cada despedida há sempre a esperança de um novo reencontro.
De volta ao apartamento, um pouco de descanso em frente ao meio de comunicação mais usado aos finais de semana: a televisão. Lembrei-me de um filme onde a personagem vai assistir levando um enorme saco de pipoca, um refrigerante e tenta equilibrar tudo isso, sem deixar cair bolsa, livro e revista. Já estive em situação semelhante.
Antes do retorno, os conselhos costumeiros, os avisos importantes. Pai é sempre o mesmo. Preocupa-se e muitas vezes não sabe como transmitir. Descarrega tudo de uma vez, talvez porque já tenha tido a experiência de passagens assim. O abraço apertado, o choro solto, a pressa de descer as escadas para não ver o final do soluço, o sofrimento da mãe e irmão ao deixar um pouco de si ali.
Enfim, à volta. Triste e silenciosa, com uma vaga no assento e uma voz calada - a de Poliana - em seu lugar.
"Viva com esperança, exale esperança, pense em esperança. Verás que é a flor que, enquanto as outras murcham, ela permanece viva, mesmo que deixemos de regá-la” (Raí).
*********************************************************************
Final de semana chegando e uma tarefa a cumprir: levar para longe do meu abraço um dos meus amores. Os filhos crescem e nós não percebemos, pelo contrário, sempre os achamos nossas crianças e, o impacto que nos causa - quando eles se vão - é como se fosse o da incredulidade, do espanto e do temor.
Noite de sexta a ansiedade tomou conta de mim, pensamentos trilhavam os caminhos das interrogações e o sono não chegava - mesmo que eu visse a figura mágica de uma bela garota sorrindo com um olhar carinhoso e cheio de amor para dar – para aliviar um pouco da minha inquietação.
A Bíblia nos diz que criamos nossos filhos para o mundo, portanto, eles não nos pertencem. Difícil admitir isso. Mas sabemos também que essa separação um dia irá acontecer. Malas, livros, sonhos. Tudo dentro de um porta-malas de um carro.
Viagem iniciada em plena madrugada rumo a capital da Paraíba. O escuro da noite, clareada apenas pelos faróis dos que iam e dos que vinham, eram reflexos de cenas passadas na mente de quem estava relembrando o filme daquela vida.
Criança, não me deixava sair para trabalhar. Era escondido que me ausentava de sua presença e do colo que ela tanto gostava. Adolescente, não se importava mais, nem chorava a minha ausência. Tinha com que se preocupar, seu mundo era distinto do meu. Adulta, seus primeiros sonhos estavam se concretizando. Um deles, o de se formar, ser jornalista e apresentadora de telejornais. O outro o de morar sozinha, cortando os laços umbilicais ainda resistentes à idade.
Dia chegando, o sol despontando forte na curva do horizonte, como a celebrar um final de semana inédito para essa família. No rádio do veículo, Marco Antônio e suas belas canções religiosas. Um grande evangelizador. Olho pelo retrovisor e vislumbro o olhar da cria que parece estar perdido em algum ponto. Talvez estivesse calculando o peso daquela decisão.
Não sei, não perguntei.
Os canaviais surgem à margem da estrada e dão a dimensão de quão grande é o percurso de uma batalha e quão grande é o caminho a percorrer para se vencer na vida.
Felizmente para todos, pensei.
Chegada, finalmente. Cidade grande, arborizada, cheia de condomínios, estudantes de todos os lugares e uma universidade imensa para abrigá-los. O apartamento - no alto de quatro andares - pequeno, mas aconchegante. Dois inquilinos: Sámia e Natália. Simples e comunicativas.
Gostei. Foram dois dias de muito trabalho, como o montar de móveis, por quadros, armadores, consoles, consertar pias e ajudar na limpeza do mesmo. Uma parada para ir visitar uma irmã, até então a acolhedora e tutora da filha amada. Conversa amena, muitas vezes de saudosismo e de passagens de outrora, entremeada por gargalhadas, ao relembrar fatos pitorescos das nossas histórias, lá onde os canaviais ainda não puderam chegar. Na saída, a despedida e o agradecimento aos donos da casa, por tomar conta do ente querido.
Confesso que sou emotivo e não gosto muito de despedidas, apesar de saber que elas são obrigatórias e fazem parte do nosso cotidiano, porém, o que nos resta como consolo é: para cada despedida há sempre a esperança de um novo reencontro.
De volta ao apartamento, um pouco de descanso em frente ao meio de comunicação mais usado aos finais de semana: a televisão. Lembrei-me de um filme onde a personagem vai assistir levando um enorme saco de pipoca, um refrigerante e tenta equilibrar tudo isso, sem deixar cair bolsa, livro e revista. Já estive em situação semelhante.
Antes do retorno, os conselhos costumeiros, os avisos importantes. Pai é sempre o mesmo. Preocupa-se e muitas vezes não sabe como transmitir. Descarrega tudo de uma vez, talvez porque já tenha tido a experiência de passagens assim. O abraço apertado, o choro solto, a pressa de descer as escadas para não ver o final do soluço, o sofrimento da mãe e irmão ao deixar um pouco de si ali.
Enfim, à volta. Triste e silenciosa, com uma vaga no assento e uma voz calada - a de Poliana - em seu lugar.
Obs. Imagem da internet