38 ANOS DEPOIS

Fala-se em “peso da idade”. E as pessoas se importam muito com o tempo. Algumas travam batalha com ele, não se assumem, não aceitam as transformações do próprio corpo. Estou me lixando para os quilinhos a mais e para os fios brancos que discretamente sinalizam o passar dos anos. Tenho preocupações menos vaidosas. Mais com a saúde do que com a estética, já que, inevitavelmente, após certa idade, alguns cuidados são necessários para uma velhice saudável.

Cada um sabe o que é melhor para si. Eu, por exemplo, decidi que quero viver todas as fases que a idade me oferecer, passar pelo aprendizado em todas elas e, claro, envelhecer!

Se quando criança, nas brincadeiras de casinha, eu planejava casar, ser mãe e ter uma casa de verdade pra cuidar, faço meus planos para a velhice: quero ser uma velha bem feliz. Penso em chegar à idade de ter tempo pra mim, de poder fazer minhas leituras, escrever meus textos, organizar minha vida e dar andamento a alguns projetos, numa casa com varanda, uma rede e um jardim. E netos correndo pela casa (de vez em quando), bagunçando-a inteira! É claro que eu quero viver tudo isso!

Não me assombram meus 38 anos. Sou quase uma menina (é sério!). Só saio da menina e incorporo a “velha” quando deixo evidente meu gosto pelas coisas antigas, influenciada pela minha mãe, que usava termos interioranos, hoje esquecidos, e que cantava muitas canções que eu guardo e que, ao cantar, torno-me alvo de piadas. Nem ligo pra isso.

O que realmente sinto de “peso” na minha idade, é causado pelos excessos, destemperos e falsidade de alguns, porque eu não percebia nada disso quando era mais nova, protegida por uma ingenuidade que me mantinha longe do mal.

Fora isso, a idade me fez essa mulher sensata, cautelosa... Tudo bem, neurótica, confesso! Confio desconfiando, sempre com um pé atrás. Vi o suficiente para agir assim. Mas hoje me reconheço como uma mulher “madura”, experiente, embora ainda se descobrindo, aberta para o aprendizado, carregando 38 anos com o peso de uma pluma.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 12/02/2014
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