Evangelho segundo Rachel Sheherazade
Naquele tempo, Jesus havia tornado ao templo e todo o povo vinha até ele para que os ensinasse. E os escribas e fariseus, cidadãos de bem e pagadores de impostos, trouxeram diante dele uma mulher apanhada em adultério. E, pondo-a no meio, disseram: “Mestre, essa mulher foi apanhada no próprio ato, adulterando. E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?”. Isto diziam eles porque sabiam que há muito o governo romano havia deixado de zelar pela moral e bons costumes, ficando o povo judeu desassistido e vulnerável à ação de adúlteros e toda sorte de fornicadores. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra e não os respondia.
Cansado de esperar por uma justiça que não vinha, um dos homens se abaixou para pegar uma pedra e com ela acertou diretamente na testa da mulher adúltera, prostrando-a imediatamente. A isso se seguiu uma chuva de arremessos, vindos de toda a parte, e em pouco tempo o corpo da pecadora jazia inerte. Feito isso, saíram um a um, a começar pelos mais jovens, até os últimos. E Simão Pedro, vendo-se a sós com o Mestre, perguntou-lhe se era justo aquilo que fizeram com a adúltera, ao que Jesus respondeu: “Não os condeno. Acho compreensível, o que não significa que aceite. Ademais, eu não vim para trazer a paz, e sim a espada. Que vão embora, e não pequem mais”.
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E aconteceu que, junto com Jesus, também conduziram dois malfeitores, para que fossem mortos com ele. E quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali o crucificaram, e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. E um deles blasfemava dizendo: “Se tu és o Cristo, salva-te a ti e a nós”. Mas o outro o repreendeu e disse a Jesus: “Senhor, quando entrares no teu reino, lembra-te de mim”. Com o pouco de força que ainda tinha, Jesus respondeu: “Acaso sou eu algoz de ti, infeliz? És destituído de livre arbítrio? Não sou eu fruto da mesma sociedade que ti? Filho do coitadismo!”. E, dizendo isso, expirou.