Brasileiros, alto!
Não ser afeito a discussões ideológicas não faz de mim um alienado, muito pelo contrário. A certa distância (segura) tanto da esquerda, quanto da direita, pude ter uma visão sem paixões, exacerbadas ou não, dos diversos momentos políticos que nosso País tem vivido nesses últimos trinta anos.
Direeeita, voolveer!!
Durante anos a direita esteve encastelada no poder a pretexto de banir terroristas comunistas. Estes, de fato existiram, e sonhavam em instaurar um regime marxista no Brasil. Era sonho, claro. Guerrilharam entre si, saindo vitoriosa a direita, como se sabe.
Essa, porém, foi uma vitória que não lhe trouxe glórias nem um bom nome na história. Mesmo com instrumentos como o decreto-lei na ponta da caneta, os Atos Institucionais à disposição e controlando a totalidade dos estados e capitais, manteve o esquema de currais eleitorais, compadrio e jogo de interesses.
Fizeram o Mobral, tentando corrigir uma falha secular e dela própria, ensinando adultos a ler e escrever sofridamente, mas não se preocuparam em desenvolver seus intelectos, criando uma massa semialfabetizada, sem senso crítico nem poder de discernimento, que vaga por aí até nossos dias.
Depois que a esquerda ascendeu ao poder, uma parte da direita, milagrosamente, pasmem, transformou-se em “progressista”, e aliou-se ao governo de plantão, passando a usufruir das mesmas vantagens e benesses de quando estavam do outro lado, se é que esse pessoal tem lado.
A parte restante da direita ficou jogando dominó, damas e trocando figurinhas durante a “hora do recreio”, que era como eles julgavam que seria o governo “popular”: um breve interregno para recuperar forças, enquanto o adversário enrolava uma corda em volta de seu próprio pescoço.
Esqueeerdaa, vooolveer!!
E o pessoal que tinha solução simples e fácil para tudo, enfim, chegou lá. Ocupou os primeiros escalões com figuras tradicionais e históricas do partido, envolveu a militância, e foi se expandindo na administração até chegar à minúcia dos chefetes de departamento. Daí em diante a máquina estatal passou a ser do partido, e não do Brasil.
A reforma agrária, antes pauta em todos os manifestos da esquerda, parece que perdeu o encanto, pois até hoje os sem-terra vivem à toa, acampados nas beiras das estradas, invadindo terras sem critério (e há critérios válidos a justificar invasões?), fazendo e acontecendo. E tudo com direito a verbas públicas!
Mas agora é que vem a parte boa! A esquerda aproveitou aquela massa de desvalidos sem qualificação herdada da direita e deu-lhes o sustento em troca de suas dignidades. Chamou os da direita que se tornaram “progressistas” e comprou-lhes os votos. Golpe de mestre, nem por isso merecedor de honra.
Depois, repetiu-se à exaustão a cerimônia do beija pé com os humildes, enquanto, já amiga dos novos “progressistas”, trabalhava em conjunto com eles para manterem tudo como estava. Indefinidamente...
Notando que o script fora substancialmente adulterado, em algum momento desse enredo os verdadeiros ideólogos da esquerda tradicional, ética e correta, que, aliás, merece o respeito desta nação, foi saindo sem nem mesmo se despedir dos antigos parceiros. Algumas saídas foram ruidosas, houve as silenciosas e até mesmo simples deserções, tamanho era o desconforto entre o “ser” e o “poder”.
Brasileeeiros, alto!
Esquecidos, os brasileiros têm de lidar com um cotidiano surrealista. Enquanto o governo alardeia a grandeza e o progresso nacionais, aposentadorias irrisórias são pagas para quem contribuiu por trinta e cinco anos com a previdência, o atendimento médico que só existe nas propagandas, a insegurança é total em todo o País, a corrupção está presente em todos os níveis, políticos praticam golpes eleitorais, o governo tenta sucessivas vezes censurar os meios de comunicação, a educação é ineficiente e desvirtuada...
Entre direita e esquerda, os brasileiros se perguntam: “Será que o jogo de damas está perto de terminar”, “A campainha já tocou?” ou “Ainda vai ter aula hoje?”...
Com certeza haverá uma próxima, interessante e proveitosa aula, mas quando? Ah, isso vai depender exclusivamente de nós, os alunos dessa grande escola chamada Brasil
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