PLAQUINHAS E RADARES

Um dia desses assisti a uma palestra sobre relacionamento, na qual o palestrante explica autoridade utilizando o exemplo das placas de trânsito e o radar. Disse ele:

- Você está dirigindo numa rodovia com seu carro com tantos cavalos de potência e se depara com uma placa de limite de velocidade, e está escrito: oitenta quilômetros por hora. Você passa por ela a oitenta? Que nada, você passa a cento e cinquenta, cento e sessenta. Mas logo ali, alguns metros depois, tem um radar. Limite de velocidade cinquenta quilômetros por hora. E o radar olha pra você e diz: “vem, a cento e tanto... aqui é cinquentinha... passa mais que isso para você ver... vem!”.

E hoje acordei com a seguinte reflexão: “os professores se tornaram plaquinhas!”.

Já teve uma época em que os professores tinham status, uma profissão almejada por muitos jovens, os pais diziam com muito orgulho: “meu filho (ou minha filha, quando o caso) é professor (ou professora)!”.

Quando cursava a terceira série (nos idos de 1991), tinha o maior medo de estudar na turma do professor Juarez no ano seguinte. Uma criatura de baixa estatura, de um humor discutível, linha dura, terror da gurizada da escola, respeitado pelos familiares e colegas.

O sentimento era compartilhado por todos os colegas, havia apenas duas turmas de quarta série, a do professor Juarez e a outra. Mas por conspiração do destino, eu e muitos colegas fomos para na turma do temido professor.

Com o passar dos dias o medo tornou-se respeito e admiração. Anos mais tarde o reencontro num restaurante próximo à universidade, onde eu concluía minha segunda graduação. Não pude deixar de cumprimentá-lo.

- Professor Juarez, que satisfação encontrá-lo. O que aconteceu, o senhor tem dormido em formol? Continua o mesmo.

- Você é...

- Sou Ademilson, fui seu aluno no bairro Flexal... (e fui interrompido por ele)

- Da turma de 1992? Como você está?

- Isso mesmo! – com cara de espanto - Estou bem, graças a Deus... E mais algumas palavras e o deixei almoçar em paz.

Hoje, professor, vejo como as coisas mudaram em tão pouco tempo (se duas décadas forem pouco tempo).

Para se conseguir uma vaga para trabalhar em alguma escola, precisamos passar por um processo seletivo filho da... Quero dizer: desleal (para não usar um adjetivo que ofenderá algum leitor). Onde os que, com alguma ideologia, respeito ao saber, que cumpre as etapas de forma ordenada, que busca uma formação séria, de qualidade, tem sua classificação abaixo dos fraudulentos e desonestos que compram diplomas e certificados. O pior é que todos sabem disso, mas não se toma nenhuma providencia.

No dia da escolha, passamos por situações de desrespeito e humilhação. Ficamos à espera, das oito às quinze horas, sem um cafezinho, sem um lugar digno para sentar e aguardar... Vê-se, em dias como estes, pessoas, professores sentadas no chão, sem almoço, com a dignidade usurpada.

Passado esse período, assumem-se as aulas, retornam-se à escola e, entre arrastos de caixas e livros empoeirados, a história do cafezinho se repete... Nada. Que cada um traga o seu!

Café: água, açúcar e pó de café, coisa barata. Mas não é pelo café, apenas.

No dia do meu aniversário recebi uma surpresa: o lanche que trouxe para a escola, o deixei na geladeira coletiva, foi jogado fora e encontrei a vasilha vazia e lavada (agradeci a servente por ter lavado), dentre estas e outras coisas surge a reflexão:

Professor já foi radar, hoje, não passa de uma plaquinha!