Túlio Maravilha

Vinte e sete minutos de jogo e o juiz marca pênalti para o Araxá Esporte Clube. A torcida se alvoroça. O Brasil se alvoroça. Porque todos sabiam que Túlio Maravilha pegaria a bola para bater e aquele poderia ser o seu milésimo gol. Todas as atenções se voltam para ele. Pela primeira vez na história uma partida da Segunda Divisão do Campeonato Mineiro era transmitida ao vivo em rede nacional – e até algumas horas antes da partida havia uma disputa judicial para definir qual emissora teria os direitos de transmissão. Para exibir os seus produtos no intervalo, anunciantes haviam desembolsado fortunas que só encontram parâmetro no Super Bowl. Àquela altura da partida, a audiência alcançava o pico de 52 pontos. Todos queriam ver o feito que colocaria Túlio ao lado de Friedenreich, Pelé e Romário.

Menos os jogadores do Mamoré, que não gostariam de ter as suas carreiras manchadas pela partida em que levaram o milésimo gol de Túlio. O goleiro Fabrício temia não apenas ser o novo Andrada, aquele que tomou o gol mil do Pelé, mas até mesmo o novo Barbosa, eternamente marcado pelo gol que tomou em 1950. Do outro lado, a cidade de Araxá sabia que seria colocada no mapa do futebol mundial a partir de então. Dali por diante seria Três Corações, Pau Grande e Araxá. Grande era a responsabilidade Túlio naquele pênalti.

Havia, é claro, os detratores, aqueles que acham que sabem mais do que o Túlio sobre a quantidade de gols que ele fez. Gente que desdenha da sua saga pelo interior do Brasil em busca do gol mil. A esses Túlio responde, com humildade, que nem Jesus agradou a todos. E lembra que o presidente da Fifa, reconhecendo uma injustiça histórica, prometeu presentear o jogador com uma Bola de Ouro, como fez com Pelé este ano.

Tudo isso passa pela cabeça de Túlio naquele momento. Sabe que deve fazer o gol antes da Copa, porque depois vem a Copa e ninguém se lembra do Túlio. Então ele corre para bater. E a realidade, não podendo fazer nada, se curva ao seu sonho.

milkau
Enviado por milkau em 10/02/2014
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