PENSAR O QUÊ?
"Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura."
(Aristóteles)
Tínhamos 18 ou 19 anos!
Idade em que, obrigatoriamente, éramos socialistas, mesmo sem nunca termos lido Marx e só conhecermos Lenine pelas fotos dos jornais.
Mas era moda e índice de alta cultura!
A burguesia representava o culto da prepotência do capital sobre o trabalho, o desdém monárquico aos legítimos interesses do povo.
Mas, em flagrante conflito com tais ideais ou ideias, a juventude cultuava a moda, os filmes e as músicas americanas, como, aliás, acontece hoje.
Um dos meus amigos, Gilberto, tinha um irmão, Renê, filhos de Almirante.
Renê, mais jovem (e mais rebelde), foi a primeira pessoa que eu vi “puxar um baseado”, usando uma caixa de fósforos vazia e, também, possuidor de uma chave mestra, que abria e ligava qualquer carro da marca Citroen, de maneira que ninguém estranhava mais quando ele (menor, ainda) passava a cada dia montado num carro diferente; passeava e largava o veículo (inteirinho) em qualquer lugar da cidade...era puro sarro!
O Gilberto, não! Era um pensador, o filósofo da esquina da rua Cândido Mendes com a rua da Glória, caracterizada pelo maravilhoso relógio quadrifacetado com 108 anos de existência e pela esplêndida balaustrada de bronze, ainda hoje existentes.
Sempre sobraçando um livro, era a personificação do erudito, o que lhe valia, por parte dos menos favorecidos, olhares enviesados e aquele gesto de dedos girando ao redor do ouvido, indicando desvio comportamental.
As nossas conversas, madrugada à dentro, abordavam temas variados e, quase sempre, muito acima do nosso próprio entendimento. Valia, entretanto, como aprendizado e, mais do que isso, animava-nos à pesquisa, à leitura diversificada, à busca, enfim, da cultura.
A turma fugia dele. Primeiro, porque muita coisa que dizia era ininteligível e, também, pelo solene alheamento aos temas das conversas usuais – seu papo era “cabeça”.
Eu o ouvia com disfarçada atenção, mais por mórbida curiosidade, querendo saber até onde isso iria me levar.
Então, num belo dia, ele, com carregada circunspeção, como a revelar um segredo de Estado, me confessou; - Paulão, eu sou irmão do cubo!
Puxa vida, pensei eu, só conhecia o outro, o puxador e cheirador e fiquei ali, só pensando; - Como deve ser interessante conhecer uma pessoa com tantas facetas. Mas isso só será possível quando (e se) o Gilberto sair do Pinel !
-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o
(dedicado a todos os malucos do mundo, que, afinal, sejam, talvez, mais equilibrados que nós, os pretensos normais.)
- foto - Internet
"Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura."
(Aristóteles)
Tínhamos 18 ou 19 anos!
Idade em que, obrigatoriamente, éramos socialistas, mesmo sem nunca termos lido Marx e só conhecermos Lenine pelas fotos dos jornais.
Mas era moda e índice de alta cultura!
A burguesia representava o culto da prepotência do capital sobre o trabalho, o desdém monárquico aos legítimos interesses do povo.
Mas, em flagrante conflito com tais ideais ou ideias, a juventude cultuava a moda, os filmes e as músicas americanas, como, aliás, acontece hoje.
Um dos meus amigos, Gilberto, tinha um irmão, Renê, filhos de Almirante.
Renê, mais jovem (e mais rebelde), foi a primeira pessoa que eu vi “puxar um baseado”, usando uma caixa de fósforos vazia e, também, possuidor de uma chave mestra, que abria e ligava qualquer carro da marca Citroen, de maneira que ninguém estranhava mais quando ele (menor, ainda) passava a cada dia montado num carro diferente; passeava e largava o veículo (inteirinho) em qualquer lugar da cidade...era puro sarro!
O Gilberto, não! Era um pensador, o filósofo da esquina da rua Cândido Mendes com a rua da Glória, caracterizada pelo maravilhoso relógio quadrifacetado com 108 anos de existência e pela esplêndida balaustrada de bronze, ainda hoje existentes.
Sempre sobraçando um livro, era a personificação do erudito, o que lhe valia, por parte dos menos favorecidos, olhares enviesados e aquele gesto de dedos girando ao redor do ouvido, indicando desvio comportamental.
As nossas conversas, madrugada à dentro, abordavam temas variados e, quase sempre, muito acima do nosso próprio entendimento. Valia, entretanto, como aprendizado e, mais do que isso, animava-nos à pesquisa, à leitura diversificada, à busca, enfim, da cultura.
A turma fugia dele. Primeiro, porque muita coisa que dizia era ininteligível e, também, pelo solene alheamento aos temas das conversas usuais – seu papo era “cabeça”.
Eu o ouvia com disfarçada atenção, mais por mórbida curiosidade, querendo saber até onde isso iria me levar.
Então, num belo dia, ele, com carregada circunspeção, como a revelar um segredo de Estado, me confessou; - Paulão, eu sou irmão do cubo!
Puxa vida, pensei eu, só conhecia o outro, o puxador e cheirador e fiquei ali, só pensando; - Como deve ser interessante conhecer uma pessoa com tantas facetas. Mas isso só será possível quando (e se) o Gilberto sair do Pinel !
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(dedicado a todos os malucos do mundo, que, afinal, sejam, talvez, mais equilibrados que nós, os pretensos normais.)
- foto - Internet