Mundo Louco
O filósofo espanhol Santayana, que vivia na América do Norte, dizia, não sei se com divertido horror, que o mundo não existe.
Comecei a lembrar que muitos adoram dar um apelido ao mundo. Assim, “este mundo é um pandeiro”, “o mundo é uma bola”. Outros são mais agressivos e tascam: “mundo cão”. Para sermos justos há também a frase poética do homem que foi à lua: -“a terra é azul”.
Talvez estejamos sendo injustos com o mundo. Deveríamos falar nos habitantes da terra, que me parecem cada vez mais desvairados.
Às vezes ocorre uma certa debilidade coletiva e quase todo mundo adere, sem pensar, a um movimento qualquer completamente inconsequente.
Recordo-me vivamente do movimento hippie. Com meus 25 anos, heterossexual, jamais acreditando no envelhecer, fui convencido a sair pela rua com um tamanco, rabo de cavalo e uma bata indiana. Andava pela rua Gago Coutinho, em direção ao Largo do Machado, no Rio.
O tamanco tinha plataforma (ou salto, sei lá) e por isso fui saracoteando pela rua, esperando a qualquer momento uma queda fatal. Um vizinho de rua me vê e arregala os olhos e me diz: - “vou chamá-lo de Gigi”. Foi o bastante para eu parar duzentos metros adiante e ficar em estado catatônico bolando uma maneira de sumir...
Passados uns 30 minutos de estupor, voltei num saracoteio como uma Carmem Miranda para minha casa.(felizmente não me obrigaram a colocar um cesto de frutas tropicais na cabeça)
É por essas e outras que nunca mais acreditei nem aderi a nenhum movimento.
Restava o problema do meu apelido. Depois de muito insistir com meu vizinho, que viu eu jogar fora o tamanco e a bata, ficamos acertados: agora, eu seria chamado de Guigui (um apelido másculo).
Ah, sim! O rabo de cavalo conservei ainda por mais um ano, apreciadíssimo pelas moças da praia do Arpoador. E eu, livre dos tamancos, sem requebrado no andar, desfilava altivo o finzinho da minha rebeldia sem causa, gingando cariocamente. Sem dúvida, este mundo existiu...