O perigoso mundo das drogas

Sim, confesso: trago no cérebro as marcas indeléveis do vício. Por mais que o tempo passe, por mais que eu, resoluto, mantenha-me afastado; jamais serei o mesmo. Mais dramático é ter que admitir que me viciei (ou fui levado a isso), por doses cavalares do produto, que me eram empurradas mente abaixo dentro de minha própria casa, ministradas pela pessoa em que eu confiava plenamente… E era quem mais devia me proteger.

É triste, mas não posso negar meu passado. Continuo viciado. A culpada é minha própria mãe… Sim, ela é viciada em Amado Batista.

Foram anos e anos ouvindo Amado Batista no rádio, no programa do Eli Corrêa, o homem sorrrrrriiiiiisssssoooo do rádio.

Tenho uma boa memória. Pronto. Decorei todas as músicas. Resultado: neurônios e mais neurônios inutilizados. Mesmo agora, décadas distante do objeto do meu vício, não posso dizer que estou limpo. Pego-me, não raras vezes, a cantarolar desafinadamente (como me é peculiar) “No hospital, na sala de cirurgia… Eu não consigo esquecer de você, tá sendo muito difícil pra mim…Menininhaaaaaa, meu amorrrrrr”. É triste!

Hoje, tento manter-me protegido, mas o mundo está muito, muito pior que na minha infância. A deterioração é tanta que chego a pensar que aquilo que tenho como droga, seja, em comparação ao que se vê por aí, um antídoto. Como um cara dominado pelo crack que se lembra com saudades do tempo em que só a maconha lhe fazia a cabeça, concluo resoluto que, diante das ameaças que pululam nos rádios, carros, TVs e sites; que Amado é até saudável.

E assim, preso em um emaranhado de sons alucinógenos que ocupam neurônios, burrificam as pessoas, quebram as relações humanas, tiram o prazer inerente a uma boa conversa, vulgarizam os adolescentes, vou tentando me virar.

Como um refugiado de guerra em terra inimiga, com 30% dos 10% que - como humano, ridículo, limitado – utilizo de minha cabeça animal; ocupados por tchereres, thus tha thas, PRE-PA-RAs e coisas do gênero; desenvolvi algumas estratégias de sobrevivência:

Jamais compro CD com mais de 4 pessoas na capa (pode ser pagode paulista);

Funk só com TV sem som (olhar não consigo ficar sem… resquícios do vício);

Não consumo nada de artista que tenha ido ao Faustão nos últimos 36 meses (por razões óbvias);

Só baixo músicas lançadas antes de 1995. Músicas atuais, só de bandas que nasceram antes de 1990;

Ando pelas ruas utilizando-me de um protetor auricular.

Fica um apelo: pais, professores… Façam algo. Droga vicia. Não deixe nossas crianças e adolescentes se contaminarem.