O fascínio das coisas que eu não sei
Sabe aquelas perguntas que fazem a cabeça da humanidade desde tempos imemoriais: De onde viemos? Para onde vamos? Por que estamos aqui? O que a Dona Gracinha vai fazer pro almoço de domingo?
Pois é. Depois que Darwin matou Adão e Eva, ficaram ainda mais difíceis de responder. Antes era tranquilo. Viemos de Adão e Eva, Eva de Adão, Adão do barro, o barro de Deus. Vamos pro céu ou pro inferno, com direito a uma escala no purgatório pra quebrar a monotonia. Estamos aqui para… Bem, essa é aí era mais complexa… Vigorava mesmo o lugar comum: pra servir a Deus. Quanto ao almoço de domingo da minha mãe, a certeza é de que será sempre uma surpresa deliciosa.
Só que Darwin matou Adão e Eva. E aí? Agora viemos de uma grande explosão, que forjou a matéria, que se reuniu em nebulosas densas, que formaram estrelas, que fabricaram a tabela periódica, que explodiram e formaram planetas… E um deles, pelo menos é o que se tem certeza, desenvolveu a vida. Uma célula, que aprendeu a comer (sem trocadilhos) e se reproduzir, depois associou-se a outras e formou seres complexos, mais complexos e mais complexos… Tudo muito bom, tudo muito bem… Só que as respostas de antes não valem mais. E não venham me dizer que isso significa que devamos ressuscitar Adão e Eva. Isso significaria pensar que Deus deixou fósseis nas rochas pra despistar Darwin. Aí já é demais!
Há várias teorias mais ou menos plausíveis pra explicar de onde viemos e pra onde vamos. Em geral, viemos das estrelas, somos poeira de estrelas e voltaremos às estrelas. O que ficou difícil foi responder o que estamos fazendo aqui? Nesse ponto, ou recorremos à missão divina que as várias religiões pregam, ou reconhecemos que somos apenas mais uma engrenagem no ciclo aleatório e sem objetivos de criação, destruição e recriação do universo.
A primeira hipótese parece incongruente com as evidências. A segunda assustadoramente desalentadora. Mas, será que é preciso mesmo ter uma resposta?
Agora mesmo, aceleradores de partículas provocam trombadas atômicas tentando obrigar que os componentes da matéria e da antimatéria a se mostrarem e provarem teorias que propõem multidimensões, universos paralelos e até mesmo um determinismo que pode ser classificado como destino. De certa forma, tudo estaria escrito e nada poderia ser feito pra que o futuro fosse mudado. Isso não é a mesma coisa que as religiões pregam há tempos?
É claro que os temas são instigantes. Foi a curiosidade que tirou o homo sapiens da África e o levou a dominar o mundo. Querer saber mais é o que nos move, enquanto espécie. Mas existe uma diferença básica entre querer satisfazer curiosidades básicas e precisar de justificativas científicas ou religiosas para estabelecer um padrão de comportamento.
Seja Deus, seja o universo, seja o destino; estamos diante de forças com as quais não podemos duelar, modificar. Mas tornar o mundo melhor é possível. E é bem fácil. Sorrir mais, cobrar-se menos, transferir menos responsabilidades, agir localmente. Quem sabe assim conseguiremos nos perpetuar.