Sociedade dos revolucionários 2

—Sabe carteiro, as pessoas têm medo de experimentar aquilo que é novo, não conseguem se abrir para algo diferente porque estão tão acostumados com o que sempre vivenciaram que não conseguem se imaginar vivendo de uma maneira diferente. A vida toda aprenderam que o que importa é serem alguém que vive conforme as regras de uma sociedade que já existe a tanto tempo, que dizem poder dar exatamente o que precisam para uma vida feliz, mas baseada em uma felicidade falível! Então essas pessoas crescem acreditando estar trilhando pelo caminho que as levara a satisfação total e quando chegam ao final de suas vidas percebem que tudo pelo qual lutaram a vida toda não consegue satisfazer e preencher o vazio que eles têm por dentro. Mas só descobrem isso quando já e tarde demais. Passaram a vida toda pensando somente no futuro, pensando que quando chegassem ao ápice, tudo o que estavam passando, todas as frustrações e medos e anseios, todo aquele sentimento de solidão; mesmo estando cercado por tudo o que o dinheiro pode comprar, que tudo isso acabaria ao chegar onde a sociedade diz ser o clímax da existência humana. Somente quando o sentimento de frustração preenche o coração deles é que se dão conta de que tudo não passou de uma vida inteira a mercê da sociedade, sendo só mais um na multidão, seguindo as regras impostas por homens sem caráter. Desperdiçaram todas as suas forças dando tudo de si em prol de um objetivo em comum, mas que só beneficia aos que já estão no topo. Correm atrás do vento, indo de um lado para o outro na procura da verdadeira felicidade, sendo que se parasse de correr e aproveitassem a brisa do vento batendo em seus rostos, saberiam que a felicidade esta em apreciar as coisas belas da vida, em permitir ser levado pela sensação de não estarem no controle de nada, mas ainda sim saberem que alguém esta no controle de tudo, vivendo sem toda essa tensão, todo esse stress de ser igual a todos, de chegar aonde os ancestrais chegaram; permitindo-se viver de forma que a vida não passe como apenas um grande roteiro que já se sabe o final e não possa sair nada diferente do script, toda a trajetória já esta cravada em suas mentes. Carteiro, se eles parassem por um momento e observassem a imensidão do universo e conseguisse ver toda essa grandeza, se ele pudessem se dar conta de que eles fazem parte de algo muito maior do que eles acreditam; como eles podem achar que é só isso que se resume a vida humana, estão tão cegos a ponto de ignorar a grandeza do universo inteiro e achar que só existe o que lhes foi passado pelos ancestrais? Se levantassem suas cabeças, poderiam ver no horizonte o que realmente importa, mas o peso da responsabilidade que a sociedade impõe sobre suas cabeças os impede de erguê-las e verem o real sentido da vida que vai muito além de toda essa conversa de um futuro promissor; o futuro é agora. Observe alguém que esta doente, que possui um câncer em fase terminal. Olhe para essas pessoas que já estão tão pertos da morte que aquilo que é considerado prazeroso para o resto das pessoas não faz mais sentido para elas. O câncer é uma bela forma de se ver quanto tempo perdem de suas vidas em busca de coisas fúteis que não levam a nada. Ele não só mata o corpo, mas antes que se findem os dias o câncer quebra o orgulho a soberba e restaura o sentido da vida, como se ele tivesse o poder de mostrar aqueles que o tem, o que realmente significa viver. Se essa geração conseguisse implantar um câncer imaginário em suas mentes, lembrando-os todos os dias de que a vida é rápida, de que tudo acaba e que o que realmente importa é o presente; Se eles pudessem viver com o sentimento de alguém que esta com câncer, com certeza saberiam levar a vida no caminho certo; porque deixariam de se importa com o que a sociedade pensa, com o que as pessoas vão dizer de seus mais profundos desejos e sonhos e correriam atrás deles com convicção de que isso é só o que importa. A mente humana é o maior feito já realizado. Um mundo diferente sobre o olhar de cada um; é como uma bomba nuclear de idéias dentro de cada ser humano e é tão poderosa que apenas uma é capaz de mudar tudo a sua volta; a arma mais poderosa já criada; a coroa da criação. E agora com mais de dois bilhões de pessoas com uma forma diferente de ver o mundo, com todo esse poder e chegam à conclusão de que a felicidade, o sentido da vida, se resume a correr atrás daquilo que a sociedade diz ser o ideal? Sem alcançar nada novo? Aqueles que ousaram deixar tudo que existe dentro de suas mentes fluírem experimentaram uma nova forma de vida. Eles têm que abrir a mente, se libertarem das correntes da sociedade e fazer cada segundo da vida valer à pena, como se não existisse nada mais importante do que viver a vida com toda a intensidade que ela requer. Se todos eles pudessem ver as coisas de um olhar diferente, entendessem para que eles fossem criados, qual o sentido de estarem aqui; mas ao contrario, ele preferem ouvir contos do passado a trilhar um caminho diferente do que já existe e só chegam a um lugar, que é a satisfação do ego e um vazio dentro do peito. Olhe por um momento as tartarugas quando nascem, ainda que a areia da praia esteja quente, ainda que possa parecer mais cômodo ficar ali, elas partem; partem em direção ao oceano, mesmo sem saber o que existe dentro daquelas águas estranhas, elas caminham a passos lentos, mas não param, continuam em direção onde o instinto aponta. Se as pessoas conseguissem parar de seguir toda essas regras e condições e passassem a seguir seus extintos, com certeza chegariam aonde deveriam chegar, mas preferem ficar na areia da praia, construir grandes monumentos, fazer suas vidas onde é mais fácil; mesmo que as ondas venham e derrubem tudo, eles preferem ficar ali, ano após ano, reconstruindo toda vez que as ondas destroem do que entrar para as águas e vivenciar tudo o que a vida pode oferecer; tudo para o qual eles foram criados!— Os olhos do carteiro já estavam inundados pelas palavras, era como se ele pudesse sentir tudo aquilo que aquele homem estava falando. Não somente o carteiro, mas aquele homem a sua frente também não conseguia segurar as lagrima. Parecia que o peso de toda aquela geração estava sobre ele, como se ele pudesse sentir o clamor desesperado do mais profundo da alma da humanidade, no desejo desesperado de algo maior, do verdadeiro prazer e liberdade. Então por um momento os dois ficaram ali, apenas olhando para o horizonte e deixando ser levado por todas essas palavras, mergulhando em um oceano de sonhos mortos. —Mas como podem se libertar de algo que está impregnado em suas mentes, como viver uma nova vida? Se tudo o que eles acreditam ser o jeito certo, o futuro a ser alcançado já está traçado em suas mentes como se fossem seus próprios desejos. Como eles podem experimentar tudo isso que você disse, se toda a vida eles foram contaminados com a mentira e acreditam nela como se fosse à verdade? Como?— O carteiro quebrou aquele silencio perguntando com tanta propriedade que era como se ele estivesse dizendo de si próprio, como se tudo aquilo que aquele homem falara era exatamente o que ele estava vivendo. Aquele homem em pé diante dele o olhou por um momento e como se pudesse ver dentro dos seus olhos todos os medos, todas as duvidas, tudo o que ele já havia passado e com um brilho nos olhos disse: —Existem algumas necessidades que regem a vida de todos os seres humanos. Esse desejo de buscar algo a mais, de ter uma compreensão maior de tudo o que se vê, toda essa vontade de alcançar o inalcançável, de entender o motivo de estar vivo, isso é o ser humano, é a essência da vida humana. E não está errado; é o que difere os seres humanos do resto da criação. O grande problema acontece quando as pessoas tentam satisfazer esses desejos em lugares que não podem saciá-los, então as pessoas parte em uma jornada na busca pelos seus ideais, por respostas, algo que fará a vida delas valer a pena, só que voltam vazios, sem encontrar nada porque não vão ate a fonte que pode saciá-los. Perdem toda a sua vida em busca da vida e voltam mortos porque não percorreram o caminho certo, foram por outros caminhos que só leva a destruição da mente. —Olhe bem para mim carteiro—aquele homem parecia muito preocupado e com grande seriedade ao falar com o carteiro, como se o carteiro fosse alguém extremamente importante para o que iria acontecer, e olhando atentamente para ele continuou: —Eu entendo você. Por anos você vem tentando e tentando por vários caminhos e ate hoje ainda não encontrou o seu próprio caminho, aquele que você sabe que é a sua vocação, aquele que você sente prazer e nada mais importa. Eu posso ver em seus olhos perdidos no meio da multidão pensando que é apenas mais um nesse mundo, nessa imensidão, pensando que sua vida será como a de todos; eu vejo que mesmo você não participando da “sociedade”, ela ainda exerce grande influencia indireta sobre você, fazendo com que tudo perca o sentido e por um momento você acha que não conseguira alcançar a essência, que está fardado a viver assim, sem alternativa. Por esse motivo você está aqui. — Somente aqueles que percebem que estão presos é que podem ser livres.