A descoberta de Lispector

Como uma amante da literatura com cinquenta e cinco anos de idade ainda não havia lido Clarice? Não sei explicar, já havia sido apresentada à HORA DA ESTRELA, mas confesso que a aridez do texto assim lido apressadamente me assustou. Mas nunca é tarde! Aliás está frase: nunca é tarde para se começar, Clarice jamais escreveria... Seus textos são ricos, rebuscados, vibrantes, apesar de esconderem uma simplicidade constrangedora. Foi difícil constatar minha pequenez de aprendiz de escritora diante desta gigante das letras!

Comecei com Felicidade Clandestina. Um livro que compila suas crônicas e alguns contos, a maioria biográficos. Gostei da experiência? Pra ser sincera, ainda não é minha leitura preferida... Clarice é densa, é crua, é nua, mas não é isso que me incomoda... Penso que um pequeno livro de contos não me apresentou Clarice em todas suas facetas, mas pude notar que suas reflexões carregam algo de pessimismo doentio, suas histórias são como tormentas de verão, porém as palavras são como águas tranquilas de um riacho, dado a fluidez com que as escreve. Ela expõe suas feridas abertas ao incauto leitor, depois as cura com palavras de puro mel.

Não cheguei despreparada, já sabia que encontraria um universo lúgubre que me incomodaria, me provocaria e me estimularia.

Lembrei de uma amiga que cursa aulas de filosofia e cada vez se encanta mais com questões existenciais, com o estudo da psique humana, e os entraves típicos do ser humano tentando se auto compreender...

Confesso que prefiro a ignorância dos iletrados, a inocência das crianças ou ainda a alienação consentida, desejada. Prefiro a felicidade pela felicidade. Sem procurar causas, explicações. O ser humano é complexo, é torpe, é egoísta, a vida é difícil, injusta, desigual... Não posso, não consigo lidar contra isso, só me resta sorrir. Sorrir por nada, ou por tudo, sorrir ao apreciar o nascer do sol, ao ver uma flor desabrochar, ao escutar uma pergunta de criança... Clarice me desculpe!

Próximo desafio: a Cidade Sitiada - na orelha a apresentação de Santiago Dantas previne: um livro "denso e fechado"... Pois é, eu já imaginava...