Rolezinho do Padre Marcelo
Ainda eram nove horas da manhã quando encontrei uma fila quilométrica do lado de fora do shopping center. A princípio pensei que houvesse algum tipo de liquidação. Depois me lembrei dessa história de rolezinho, que andou até fechando shopping por aqui, mas achei pouco provável que ele fosse praticado por pacatas senhoras de meia idade e suas respectivas crianças – pois eram estas as pessoas que compunham a fila. Notei ainda uma ambulância, o que de início me fez pensar em algum mutirão da saúde. Mas acabei indo para o trabalho sem descobrir qual era de fato a razão daquela fila.
Veio a hora do almoço e eu encontrei uma fila inacreditavelmente maior. Agora ela não apenas entrava no shopping como também subia pela escada até o segundo andar. Tive certeza de que algo extraordinário estava para acontecer. Enquanto buscava a origem daquilo, encontrei a livraria do shopping tão apinhada de gente que a fila do caixa quase saia pela porta. Na minha inocência, achei que eram pais desesperados para comprar material escolar para a volta às aulas. Continuei a seguir a fila principal até que finalmente encontrei uma porta fechada diante da qual todos esperavam. Com algum esforço para convencer os outros de que não estava roubando o lugar de ninguém, consegui me aproximar e ler um cartaz informando que naquela mesma tarde o Padre Marcelo Rossi estaria ali autografando o seu mais novo livro. Explicava-se, desse modo, não apenas a fila que se formava desde a manhãzinha como também a movimentação na livraria.
Olhei então a grande multidão e tive pena deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. O dia já estava adiantado, mas não havia quem lhes desse o que comer. Ali permaneceriam até anoitecer, em busca de uma assinatura e algumas palavras de conforto, palavras que não poderiam ser ministradas por um simples padre de paróquia. E tudo que conseguissem ali seria maior do que aquilo que conseguem sozinhos no quarto, com a porta fechada.