Posso falar com a Teresa?

Estou concentrado na frente do computador quando o telefone toca. Atendo com um desleixado “alô?”, ao invés de identificar o nome da empresa para quem trabalho. A pessoa do outro lado fica na dúvida e pergunta se é do Incor. Digo que não e fico aliviado porque desta vez acreditam em mim e não me pedem informações sobre nenhum paciente. Parece que na genealogia das linhas telefônicas o meu número um dia já foi o do Incor. Só não sei se isso foi antes ou depois de Teresa.

Conheço Teresa há aproximadamente seis meses. Isto é, eu jamais cheguei a vê-la pessoalmente. Sei, no entanto, que ela existe e presumo que seja pessoa bastante sociável e de convívio agradável. Do contrário não haveria motivo para tanta gente ligar para mim atrás de uma mulher chamada Teresa. Sei pela própria entonação da pessoa ao telefone que não se trata de telemarketing: é realmente uma pessoa física que quer porque quer falar com Teresa. Há um fio de esperança na voz que me pergunta sobre ela e isso só torna mais difícil a minha missão de dizer que não conheço Teresa alguma.

Isso tem acontecido tantas vezes que eu fiquei curioso para saber quem é Teresa. Eu a imagino como uma mulher de meia idade, provavelmente funcionária pública, bem arranjada na vida aqui em Brasília. Talvez um pouco insensível, é verdade. Afinal de contas, há um punhado de pessoas que parecem tê-la em grande consideração, mas que nem por isso foram avisadas quando ela trocou o número do telefone. Deve haver, portanto, algumas diferenças consideráveis entre ela e sua homônima de Calcutá.

De certa forma, acho que Teresa deve me agradecer por estar atendendo todas essas ligações. Seria muito pior para a imagem dela se o telefone apenas tocasse, tocasse e ninguém nunca atendesse, Até o momento eu também não inventei nenhuma história, não disse que Teresa morreu ou que mandou dizer que nunca mais iria falar com a pessoa. Mas olha, vou confessar uma coisa: vontade não me faltou, viu?

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 05/02/2014
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