DOIS PR'Á LÁ, DOIS PR'Á CÁ (BVIW) - Mini crônica
Antes que tudo acabe eu poderia tomar uma dose de tequila, num trago só, e ficar, talvez, com as pernas bambas. Afinal nunca bebi tequila e se o efeito for fulminante, melhor. Antes que tudo acabe eu poderia subir num banco de praça e soltar o verbo trancado, anos a fio, contra o descaso e a injustiça que sofri dos governos insensíveis ao valor do professor. Antes que tudo acabe eu poderia ir atrás daquele juvenil amor do passado e me penitenciar por tê-lo preterido com receio de infringir as normas sociais. Afinal não havia divórcio e eu era apenas uma jovem inocente e medrosa. Constato, porém, que não posso tomar tequila, porque já virei as costas ao álcool. Subir em banco de praça está démodé e minhas palavras voariam soltas ao vento. Impossível, também, retroceder àquele amor, pois a realidade já não é a mesma. A realidade é que não sou mais jovem e ele já partiu para outro Plano. Enfim, são pensamentos que vão e vêm, num dois pr'á lá, dois pr'á cá. Chego a ouvir Elis cantando e, embalada pelo som da música, eu só sei que não sei o que me reserva o futuro, que não sei o que fazer antes que tudo acabe. Afinal tantas coisas já acabaram e eu sobrevivi...
Giustina
(imagem Google)