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DE MÃOS POSTAS

Foi há muito tempo... Mas velho é assim mesmo, a qualquer estímulo o passado se aflora bem mais nítido que o presente. Agora, o que me vem à mente é um louva-a-deus.

Nos idos de 1958, pus-me a contemplar um louva-a-deus de mãos postas. Aquela atitude do animalzinho me chamou a atenção. Parei o que estava fazendo e deixei-me ali ficar.. Observei , então, que ele estava diante de uma linda borboleta que permanecia imóvel. De repente, o bote. Em suas mãos segurou a incauta presa. Não a matou logo. Pelo contrário. Lentamente, arrancou uma pata, outra pata, uma asa, outra asa... até que todo o belo exemplar ficasse  mutilado. Só então, o golpe de misericórdia.


Fiquei triste, ao constatar que aquele bichinho, aparentemente inofensivo, era monstruosamente predador. De atitude orante não tinha nada. Estava sempre armando seu bote  certeiro;

Passado todo esse tempo, eu, já envelhecida pelos anos vividos, fico a matutar:  quantas vezes nós, humanos, não somos um louva-a-deus!

Meditemos, mergulhemos dentro de nós mesmos e   tiremos a conclusão.