Doce Lembrança
Me perguntaram certa vez, aqui mesmo no Recanto Das Letras, como era possível eu recordar tantas coisas da minha infância. Deve ser por que tenho grande parte das minhas lembranças registrada em fotos e filme que meu Pai mandou repassar para vídeo K7 e depois DVD. Basta querer recordar que faço regressão com os meus mais preciosos flashbacks registrados em Kodak, Polaroid, etc.
Quando pequena, sentia falta do meu Pai durante o dia. Quando ele chegava em casa eu já o aguardava de braços abertos na entrada de casa após ter deixado seu pijama, samba canção, camiseta branca e chinelos em cima da cama de casal conforme fui ensinada a fazer. Era um ritual sagrado e ai de mim se eu não cumprisse com o meu único dever. No fundo, eu esperava por aquele momento o dia todo.
Quando olhava as minhas fotos e não via o meu Pai nelas, me batia uma tremenda saudade dele mas hoje, olhando bem, vejo que ele não está presente nelas simplesmente por que ele é quem tirou todas elas. Sorria para ele. Jogava beijinhos para ele. Também chorava por que nem sempre queria tirar foto mas o meu Pai adorava uma máquina fotográfica e não tinha como não posar pra ele.
Amo essa foto que aparece logo no início. Ela registra o segundo aniversário do meu irmão caçula tirada em 21 de maio de 1965. Uma festinha em familia e não poderia ser diferente, o meu Pai registrou o momento. Eu tinha três anos e quase três meses.
Eu particularmente adorava uma festa de aniversario simplesmente por causa da musiquinha das irmãs Mildred e Patty Hill. Morando nos EUA, a minha família cantava primeiro em inglês e depois em português, com direito ao 'Rá Tim Bum' pra finalizar com chave de ouro. Americano não tem 'Rá Tim Bum'. Daí, eu adorava quando chegava nessa parte e principalmente do bis que era sagrado.
Adorava tanto, mais tanto, comemorar e cantar que infernizava minha Mãe toda tarde para fazer um bolinho só pra cantar 'Happy Birthday' e depois 'Parabens A Você'.
Quando minha Mãe não estava muito de lua pra fazer bolo, a nossa vizinha, a Katie, providenciava um bolinho pra eu fazer a festa de aniversário de uma das minhas bonecas. Katie foi a minha avó postiça. Sorte minha ter tido uma 'grandma' tão meiga e doce. Creio que herdei o meu lado italiano dela e do Freddy, seu esposo. Não tinham filhos mas carinhosamente adotaram os meus pais. Consequentemente ganharam três netos. Como Deus mexe seus pauzinhos ... Cresci longe dos meus verdadeiros avós mas, em compensação fui premiada com a Katie e o Freddy que me deram muito amor e carinho como todos os avós fazem. Tive sorte. Muita sorte.
Não importava o tamanho da 'minha filha' por que o bolo era sempre igual e tinha até vela para a aniversariante, qualquer uma das minhas bonecas, e a festa era sempre concorrida. Além de juntar todas as 'minhas filhas', o povo de casa, a Katie e o Freddy, e se tivesse visita, também era convidada a participar.
Infelizmente, o meu irmão mais velho começou a ir á escola e vinha com aquele bullying de menino de Jardim de Infância dizendo que participar de festa de boneca era coisa de menina. O meu irmão caçula ainda participava das festinhas da tarde até fazer uns seis anos mas depois veio com aquele papo de menino bobão que não podia mais brincar de casinha, nem escolinha ou cantar 'Parabéns A Você' pra uma boneca. Não pegava nada bem. Mas não tinha problema. Eu continuava com as minhas festas e cantoria até que a minha Mãe começou a trabalhar fora 'full time'. Eu já estava no segundo ano e a vida ainda passava lentamente.
Aprendi que o tempo pode ser cruel as vezes enquanto outras é generoso. O tempo não tem hora certa, simplesmente acontece. Não espera por ninguém, por isso siga o conselho do Franklin Roosevelt: "BE PREPARED" (Esteja Preparado).
O tempo simplesmente passa e carrega nossos mais doces momentos pra longe. Ainda bem que meus momentos mais preciosos estão bem guardados comigo em fotos, filme, DVD e inapagavelmente no meu coração.
Hoje é dia de festa no céu
e aqui em casa
por que é o aniversário da minha Mãe.
Saudades Dona Ana!
Beijos e mais beijos,
Patricia
e aqui em casa
por que é o aniversário da minha Mãe.
Saudades Dona Ana!
Beijos e mais beijos,
Patricia