Silenciosas sombras
Olhos silenciosos que o desejo desperta, aguça os sentidos.
O gosto do beijo na boca, a pele arrepiada, calafrios sem sentido.
Tu, que com olhos incendeia, inflama e desperta os mais profanos desejos da carne , cerne da paixão e do pecado. Tu , e não mais a lua que encanta e aprisiona as almas, vela, em silêncio proibidas paixões adormecidas, tu.
Até nas sombras és linda. Penumbra que esconde e molda, encanta e fascina, desperta as mais loucas paixões, os mais sórdidos desejos.
Tu, paixão e desejo em movimento, que um dia o sonho me trouxe, me elevou às nuvens, tu.
Fria adaga me transpassou o peito quando a teu amor me fizeste prisioneiro, e na insanidade de um desejo utópico me arrancaste a voz, cegaste meus olhos à realidade crua do mundo.
Arrastado a esse amor pungente desfiz-me. Cego de um amor que lacerava minha alma entregou-me às feras e meu coração, o fez de premio.
Infindáveis noites insones consumiram minhas horas, a alma lentamente de mim se esvaía e eu, tolo insano e vil desfazia-me pelas sombras, sobras de um esquecimento sem par.
Por séculos vaguei perdido nas ondas, no mar de incertezas que me tragavam paulatinamente, coração dilacerado em mares congelantes.
Sobrevivi às mais duras penas, devorei-me nas mais sombrias horas, abandonando à deriva os sonhos, os planos, a mim mesmo.
Hoje tua imagem me vem por sombras, fantasma de um passado que se foi, de um tempo em que me perdeste para o tempo do nunca mais.
Naufrago à deriva de meus medos e pesadelos , extirpei tua imagem do calabouço de minha alma e não mais temo as noites escuras e silenciosas. À deriva segues teu caminho, insólita existência vazia que não mais me assombra.
Nas sombras vejo-te arrastar em pesarosos passos ,a solidão de tua vida a persegue; lágrimas de profundo pesar banham-me a face. Não mais lhe pertenço.